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sábado, 30 de maio de 2009

eu, esquadros e contradições



eu acordei e tinha alguém ao lado, mas a sensação de que sou um incômodo, persiste. eu gosto de opostos, exponho os meus modos mas não me mostro. eu escrevo pra quem? eu me dou o benefício da dúvida e viro uma incógnita, um xis, um fucking ponto de interrogação. minha alegria, meu cansaço, tudoaomesmotempoagora se misturam e penso que a vida é isso mesmo. esses encontros desencontrados, a poesia e voz de um cantor ótimo num teatro cujo som é péssimo, o prazer em conhecer gente de verdade [que eu já conhecia], mas que parece de desenho, uma imagem do caetano no dvd do carro que me emociona na volta pra casa, um olhar tímido de alguém que te mira de soslaio encostado na banca de jornal...

eu fotografo mentalmente estas imagens e sigo feliz até esquecê-las, pois apesar de poder ver na hora o resultado da foto, criar efeitos e captar momentos panaromicamente bonitos, minha memória digital permite que eu as apague.

eu ando pelo mundo prestando atenção em cores, mas o que queria mesmo neste sábado era não sair dessa minha casa cor salmão-desbotado, deste quarto branco-e-azul e dessa cama com lençol vinho que não arrumo apenas pela incapacidade de esticá-lo em volta do colchão. eu ando pelo mundo divertindo gente, mas o que queria agora era que eles me divertissem, que me raptassem deste meu conforto pré-fabricado e que roubassem esta garrafa de água perrier e tomassem sem dó, tirando de mim um sorriso de raiva e complacência. eu ando pelo mundo e os automóveis correm, mas insisto em ultrapassá-los, mesmo sabendo que nos encontraremos no próximo sinal fechado. eu ando pelo mundo e meus amigos cadê, estão brincando de conversar uns com os outros numas janelinhas quadradinhas com fotinhas que insistem em piscar laranjinhas aqui no cantinho inferior do meu notebook.

abro os e-mails e nego todos os convites pra hoje. da festa do amigo no teatro oficina. do filme novo do kar wai. da peça às 21 horas nos satyros. vou à cozinha apenas para pegar o meu café-almoço de hoje. pizzas requentadas, danone, bolo e fruta. um suco cujo sabor eu não sei identificar, mas sua cor amarela denuncia ser de laranja ou maracujá.

e volto a dormir com este misto de felicidade e medo frente às novas possibilidades que vão aparecendo em minha vida. pela janela [fechada] do quarto eu vejo tudo enquadrado.

remoto controle.
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[uma contra-homenagem a um antigo professor de jornalismo (o qual respeito e admiro) que diz que meu blog é ótimo, mas que eu deveria evitar falar de coisas muito pessoais...]
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caetano cai do palco

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caindo ou não, meu ingresso para vê-lo dia 13 de junho, em são paulo, está compradíssimo!
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sexta-feira, 29 de maio de 2009

blog das 30 pessoas ou vai vai vai começar a brincadeira

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e porque a vida é urgente, as coisas vão acontecendo e a gente sempre tem umas ideias (amo a palavra ideia sem acento, ok?) que parecem bobas. daí eu pego uma idéia boba (agora com acento, só pra agradar os resistentes às mudanças ortographicas...) e chamo uns camaradas que super acham legal e pronto, o circo está armado.

já foi assim com passeios esquisitos, baladas estranhíssimas, viagens sensacionais (como pra frança, por exemplo) e não há tempo pra pensar, é só tomar a decisão, pegar o trem e seguir. e também foi assim com o BLOG DAS 30 PESSOAS. em menos de duas horas, soltei uns e-mails, chamei no msn, orkut, twitter e zaz, tinha uma lista com trinta negos querendo escrever e vários outros interessados.

não tem segredo. cada um entra com sua senha, escreve e publica. o que quiser! pode comentar o post anterior, começar uma história, comentar um video, uma música, maldizer ou bendizer, enfim, blogar. a única regra é criar seu post no dia determinado.

é isso. dia 01 de junho eu vou lá e escrevo, abrindo a porteira praquele bando de gente boa (basta dar uma olhada nos perfis pra ver que não minto). mesmo sem conhecer a todos pessoalmente, conheço seus blogs e se amo os blogs, posso dizer que amo as pessoas e torço pra que o blog dos 30 nego (adorei este apelido) dure até o tempo que durar e que sejamos felizes para sempre.

amém.

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

show da maria rita no via funchal


apesar de não gostar da cantora, não podia negar um convite tão especial pra ver maria rita no via funchal ontem, com direito a camarote, taças de prosecco, ex-bbbs (tsc!) e bolinhos com sabores bons e desconhecidos. preciso admitir que, quando ganhei o cd samba meu, eu esnobei. não tinha gostado dos anteriores e a época era de efeverscência das mulheres cantando samba. achei que seria apenas mais uma modinha, mas até que o disco é bom, muito bom mesmo. e o show? coisa linda, além de divertidíssimo. ela tem uma voz incrível, é simpática, bonita, irônica. agora me pego ouvindo novamente o samba meu, que tanto maldisse. e, como em todo show que vou, tem alguns versos de músicas que gritam por alguns dias. no caso da maria rita, estes são os versos.


"não perca tanto tempo assim contando história
pra que forçar tanto a memória?
pra dizer que a triste hora do fim se faz notória
e continuar a trajetória é retroceder

não há no mundo lei que possa condenar
alguém que a um outro alguém deixou de amar"

"e lá vem você querendo outra vez me maltratar
se o teu desejo era me ver
se deu vontade de saber se tô feliz
até posso dizer que sim"

"recebe menos quem mais tem pra dar
e agora queira dar licença, que eu já vou
deixa assim, por favor"

e esta, que teve bis e nos fez rir até quase cair (ou foi o prosecco?)

(...)
foi escolher o mal-me-quer
entre o amor de uma mulher
e as certezas do caminho
ele não pôde se entregar
e agora vai ter de pagar com o coração
olha lá! ele não é feliz
sempre diz que é do tipo cara valente
mas veja só... a gente sabe...

esse humor é coisa de um rapaz
que sem ter proteção
foi se esconder atrás da cara de vilão
então, não faz assim rapaz
não bota esse cartaz a gente não cai não...

ê, ele não é de nada, oiá
essa cara amarrada é só
um jeito de viver nesse mundo de mágoa

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quarta-feira, 27 de maio de 2009

doze avisos


1) posso dormir apenas 3 horas na noite (como fiz de ontem pra hoje), pegar uma chuva do inferno, ônibus cheio, atraso no trampo, mas se chego e ouço strokes, tudo muda.

2) sonhei que estava com dor de ouvido e, quando fui cutucar, tirei vários grãos de milho, vários.

3) tenho recebido trotes (ou enganos) no meu celular novo, talvez por ser um número muito fácil. ora liga um homem e pergunta pelo sérgio, ora uma mulher e pergunta da mônica.

4) segunda-feira ambos ligaram. ele disse 'eu sei que não é o sérgio, mas obrigado por me ouvir e falar alô'. ela disse 'estou vendendo um apartamento, você quer comprar?'

5) tudo isso é muito estranho e desconfio que sejam pessoas conhecidas passando trote. pior que ligo de volta e parece ser de orelhão, enfim.

6) dias atrás recebi um e-mail muito maldoso, com uma foto de um garoto, um link para um perfil no orkut e uma mensagem tosquíssima. penso que seja a mesma pessoa.

7) o e-mail tinha alguns detalhes da minha vida que só amigos mais chegados sabem e a pessoa dizia ser leitora assídua do blog... enfim.

8) o blog das 30 pessoas já recebe mais visitas que o condussão. e ainda nem estreou. confesso que fico chateado e feliz por ter gente me mandando e-mail querendo participar, mas já fechou!

9) sim, eu quero comprar um apartamento e a mulher que procura pela mônica ficou de me ligar ontem e não ligou.

10) já penso num blog das 100 pessoas. 1000, talvez.

11) fantasmas (bons) do passado resolveram bater à minha porta.

12) e eu abri.
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domingo, 24 de maio de 2009

simplesmente julia








não tenho palavras pra falar da julia, uma garota que frequenta minha casa desde os seis meses de idade, quando sua mãe precisava trabalhar e a deixava com a minha. agora ela tem 6 anos e ainda é um grude. preciso ainda falar muito mais desta garota, que já causou até ciúmes e briga num relacionamento passado, mas por ora só mostro este video que acabei de fazer dela cá em casa e fotos. hoje ela chegou e perguntou: você conhece a cecília meireles? eu disse, brincando, que não e ela lançou um "é uma autora de livros e eu sei vários poemas dela". pra comprovar, ela recitou TANTA TINTA e eu gravei.


essa é a julia!




ah! menina tonta,
toda suja de tinta
mal o sol desponta!

(sentou-se na ponte,
muito desatenta...
e agora se espanta?
quem é que a ponte pinta?
com tanta tinta?)

a ponte aponta 
e se desaponta.
a tontinha tenta 
limpar a tinta, 
ponto por ponto
e pinta por pinta...

ah! menina tonta
não viu a tinta da ponte...


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quinta-feira, 21 de maio de 2009

caetaneando o que há de bom


[estressadíssimo com meu trabalho de conclusão de curso da pós-graduação, com meu emprego e outras coisas, decidi espairecer e passei o fim de semana entre as cidades de americana e santa bárbara d´oeste, interior de são paulo. fui pra virada cultural de lá e pra conhecer amiga. vi antônio nóbrega, jorge ben jor, lobão. paulete, di, paula, verde, verda, vather, não sei, talvez marcelo?. bjork & glin glo, frio, unos, churros e mato. café, espeto, crises de riso, muitas crises. rodoviária, zen. manacá, manacá, senhas, na pressão. gato preto, silêncios. no mais, caetaneio o que há de bom com estas imagens e legendas do rei e espero uma breve volta praqueles lados, que tanto me fizeram bem]





os mais doces bárbaros

"alto astral, altas transas, lindas canções, afoxés, astronaves, aves, cordões"











fora de ordem

"pletora de alegria, um show de jorge ben jor dentro de nós. é muito é GRANDE, é TOTAL"










baby

"você precisa tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto"









americanos

"dançamos com uma graça cujo segredo nem eu mesmo sei"











reconvexo

"com um brinco de ouro na orelha, eu sou a flor da primeira música"













[não achei música, mas amei a foto, então ela fica!]










chão da praça

"tem que dançar a dança, que a nossa dor balança o chão da praça"






desde que o samba é samba

"mas alguma coisa acontece no quando agora em mim, cantando eu mando a tristeza embora"










noite de hotel

"e nunca um ato mero de compor uma canção pra mim foi tão desesperadamente necessário"










alegria, alegria

"os olhos cheios de cores, o peito cheio de amores... eu vou... por que não, por que não?"










o estrangeiro

"e eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo. e entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo"







lobão tem razão

"o rock acertou quando você cantou com a sua banda"









beleza pura

"não me amarra dinheiro não, mas a cultura, dinheiro não, a pele escura..."






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quarta-feira, 20 de maio de 2009

porque eu quero viver de brisa


depois de uma conversa que tive ontem à noite, fiquei vontade de escrever - e escrevi - um post enorme falando de certos acontecimentos recentes. um post cheio de indiretas, mimimis e chateações. daí eu lembrei que decidi viver de brisa e apaguei todos os cinco parágrafos porque, quando cheguei ao final do texto, percebi que não valia nem cinco linhas. e, se pra bom entendedor meia palavra bas, para um ótimo, apenas uma letra. ou melhor, um ponto.

e pra comemorar, um video do mika, cara que conheci recentemente, que me foi apresentado como um 'gayzinho divertido'. pode até ser, mas este clipe é de uma alegria e um deboche tão contagiante, que merece ser visto, ouvido e dançado no último volume.

enjoy!



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update - odeio

e durante o dia alguém me pergunta se eu já ouvi essa música do caetano, pois era exatamente o que ela estava sentindo por outra pessoa. e eu que não consigo odiar, preciso admitir que caetano é bom até no ódio.

veio um golfinho do meio do mar roxo
veio sorrindo pra mim
hoje o sol veio vermelho como um rosto
vênus, diamante, jasmim
veio enfim o e-mail de alguém

veio a maior cornucópia de mulheres
todas mucosas pra mim
o mar se abriu pelo meio dos prazeres
dunas de ouro e marfim
foi assim, é assim, mas assim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio

veio um garoto do arraial do cabo
belo como um serafim
forte e feliz feito um deus, feito um diabo
veio dizendo que sim
só eu, velho, sou feio e ninguém

veio e não veio quem eu desejaria
se dependesse de mim
são paulo em cheio nas luzes da bahia
tudo de bom e ruim
era o fim, é o fim, mas o fim é demais também

odeio você, odeio você, odeio você
odeio


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segunda-feira, 18 de maio de 2009

a vida é doce


[enquanto não sai o post sobre a virada cultural em santa bárbara d´oeste, uma letra maravilhosa do lobão]

com a mesma falta de vergonha na cara eu procurava alento no seu último vestígio, no território da sua presença, impregnando tudo tudo que eu não posso, nem quero, deixar que me abandone.

são novamente quatro horas, eu ouço lixo no futuro no presente que tritura as sirenes que se atrasam pra salvar atropelados que morreram, que fugiam, que nasciam, que perderam, que viveram

tão depressa, tão depressa
depressa demais

a vida é doce, depressa demais

e de repente o telefone toca e é você do outro lado devolvendo minha insônia, minhas bobagens, pra me lembrar que eu fui a coisa mais brega que pousou na sua sopa. me perdoa daquela expressão pré-fabricada de tédio, canastrona, que nunca funcionou nem funciona...

me perdoa, a vida é doce

são novamente quatro horas, e eu ouço o lixo do futuro, do presente, que tritura as sirenes que se atrasam pra salvar atropelados que que morreram, que fugiam, que nasciam, que perderam, que viveram depressa...

a vida é doce, depressa demais
a vida é doce, depressa demais
a vida é doce, depressa demais
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sábado, 16 de maio de 2009

FELIZ E TRISTE - notas sobre um dia incrível


começo a escrever este post às 5h35 da madrugada, hora que acabo de chegar em casa de um dia que posso chamar de incrível. ok, o trabalho não foi assim tão bacana, mas eis que hoje fui ao show da ceumar, uma cantora fantástica. pretendo escrever mais sobre este show  cujo título é MEU NOME e que aconteceu no teatro fecap, um dos melhores lugares pra ver shows, assim como o auditório ibirapuera. 

não há outra palavra para descrever o espetáculo, a não ser DELICIOSO. um show bonito, simples (só voz, violão e alguns elementos de percussão) e com a participação de fabiana cozza (há uma música em sua homenagem chamada samba pra fabi) e sérgio pererê. simplesmente o máximo, posso dizer com certeza que foi um dos melhores shows de música brasileira que fui. o que foi aquela última música com os três no palco? o que é este sérgio pererê?
 
e ceumar canta como quem respira, como quem ri e goza de uma felicidade sem motivos. nem mesmo os problemas com o violão, que teimou em falhar, diminuíram a grandeza de um espetáculo tão bonito. sem contar que ela faz parte daquele clã musical que amo (celso sim, kleber albuquerque, rubi, gero camilo, tata fernandes...)

e de repente, uma estranha felicidade ao ouvir esta canção que transcrevo e mostro em video, parceria dela com kleber albuquerque. a coisa MAIS linda do mundo essa poesia de poucos versos que diz tudo. 

FELIZ E TRISTE

eu acho que estou feliz e triste
tudo que eu tenho cabe na minha mão
e eu te dou de coração
e eu te dou de coração

eu não preciso de nada
o mundo é minha casa
o céu é minha camisa
estrelas vestem meus pés

eu não preciso de nada
estrelas vestem meus pés




pra terminar a noite (ou começar o dia) uma festa no astronete, lugar HYPE, bacanudo e moderninho ali na região da augusta, que fazia tanto tempo não ia, com amigos mais que queridos e gente nova no pedaço. o que dizer de um encontro que começou no rock anos 50, passando por rolling stones, velvet underground, chat baker e terminou com roberto carlos e jorge ben jor?

e por falar em jorge ben jor, agora preciso descansar pois daqui algumas horas sigo estrada...  já são quase seis e o cachorro da vizinha late como um galo que prenuncia um novo dia. e meu edredon me espera neste começo de dia frio e incrível, como disse no começo do post.
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quinta-feira, 14 de maio de 2009

blooks - tribos e letras na rede


"seja bem-vindo à BLOOKS, o acesso a tudo. o excesso de tudo"

xico sá, ana paula maia, joão paulo cuenca, samir mesquita e público

e aconteceu ontem, no sesc pinheiros (sp), o debate-papo LITERATURA SEM PAPEL, parte do projeto interativo blooks - tribos e letras na rede, com a participação dos escritores joão paulo cuenca, ana paula maia e samir mesquita e mediação de xico sá. sob curadoria de heloisa buarque de hollanda, a proposta do evento é, entre outras coisas, mostrar a interação entre literatura e internet e suas várias possibilidades de intercâmbio.

no evento, além de falarmos de blog, twitter, orkut, msn e afins,  foi discutida a 'transformação' da literatura que, como várias outras ‘artes’, apropria-se do ciberespaço à medida que aumenta a cada dia a quantidade de livros disponibilizados para download e surgem novas revistas digitais e blogs com textos literários de poesia e prosa, criando uma nova forma de ler, escrever e interagir. neste sentido, a internet é só (mais) um meio apropriado pela literatura e por outras artes e não um novo gênero literário.

a exposição blooks também traz videos e todo um aparato tecnológico pra mostrar que é a literatura não vai sucumbir em detrimento da internet e das novas tecnologias de informação, por isso recomendo a visita ao sesc e participação nas oficinas e debates deste evento que, muito mais que discutir as teorias conspiratórias sobre o fim do livro impresso, busca melhor compreensão deste fenômeno. 

ah, o evento foi tão bacana que resolvi criar o blog LITERATURA SEM PAPEL. lá pretendo postar textos e tudo que tenha relação com essas novas formas de veicular e expressar a literatura, mas lembro: pra mim, literatura é literatura. ponto.  pode até ser influenciada pelo meio, mas o meio não é a linguagem...


blooks - tribos e letras na rede
06 de maio a 28 de junho de 2009
sesc pinheiros - rua paes leme, 195 - pinheiros - sp
www.sesc.org.br
3095-9400
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

da indiferença, vilém flusser


[já tinha lido uma coisa ou outra deste judeu radicado no brasil, mas tenho tido mais contato com os escritos de VILÉM FLUSSER, recentemente, por causa do artigo que estou escrevendo como trabalho de conclusão de curso para a pós-graduação na USP. daí que encontro este texto dele - que nada tem a ver com meu projeto - e que trata da indiferença. é curto, segue o viés filosófico e foi publicado em março de 1972 na folha de são paulo]

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Temos, enquanto ocidentais, dois e apenas dois modelos para a morte. A morte do Cristo na Cruz, e a morte de Sócrates dialogando. Prova radical que somos, enquanto ocidentais, uma síntese malograda entre judeus e gregos. Malograda, porque, ao imaginarmos a hora da nossa morte, não sabemos como queremos morrer: apaixonadamente ou impassíveis - embora, muito provavelmente, na hora da morte isto não conte.

Imitação de Cristo ou de Sócrates: eis no fundo nossa escolha. Ser santo ou engajado ser filosofo ou contemplativo. Do ponto de vista cristão a escolha socrática é escolha da alienação e do pecado. Do ponto de vista socrático a escolha cristã é escolha da ilusão e do eng­ano. Não há maior pecado do ponto de vista cristão que a "tristeza do coração", isto é, desamor, indiferença. E não há maior engano do ponto de vista socrático que o deter "opiniões", ou seja, afastar-se da sabedoria. Escolhas estas que não podem ser sintetizadas.

Temos exemplos radiantes da indiferença socrática: tanto da indiferença aos movimentos em meu redor, ataraxia, quanto da indiferença aos sofrimentos no meu intimo, apatia. Como, por exemplo, o herói que morre indiferente as dores; o imperador romano que morre em pé, congelado em cubo de gelo; o bruxo medieval que morre calmo e sorri dente na fogueira; o gentleman inglês que morre fumando cachimbo; o aristocrata francês que se dirige à Guilhotina escolhendo o perfume apropriado; Goethe que morre escrevendo; ou ainda, o hippie atual que morre em reedição do gentleman, "à bout de souffle" acendendo cigarro. O comum a todos os exemplos é a morte, e a vida com dignidade, isto é: esteticamente. Ter vida e morte belas, limpas, não sujas de sangue.

A indiferença elaborou, ao longo da historia do Ocidente, duas grandes ideologias. A estóica na Antiguidade, a classista na Idade Moderna. Dois grandes impérios, o romano e o britânico, elevaram a indiferença em ideal oficial e predominante. O ideal do gentleman inglês - aquele que carrega o fardo do "homem branco" - pode ser resumido nesta famosa sentença: ter consciência e camisa limpa. Nada é capaz perturbá-lo e, portanto, nada pode sujá-lo. É "impecável".

O grande confronto entre as duas maneiras de vida ocidental, entre amor e indiferença, se dá no confronto entre Cristo e Pilatos. Um, cujo rosto está sujo da saliva de seus inimigos, de suor e de sangue. O outro, que lava as mãos em bacia elegantemente servida por escravos. Tal encontro pré-figura a historia toda do Ocidente. Na atualidade, por exemplo: confronto entre engajado e tecnocrata.

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terça-feira, 12 de maio de 2009

rainha(s) - duas atrizes em busca de um coração


cadê meu coração? você trouxe meu coração? cadê meu coração?

georgette fadel e isabel teixeira

e domingo fui ao sesi santo andré ver RAINHA(S) - DUAS ATRIZES EM BUSCA DE UM CORAÇÃO. adaptada por cibele forjaz e pelas atrizes georgette fadel e isabel teixeira, a dramaturgia é baseada na obra do alemão friedrich schiller, maria stuart. no livro, maria stuart é presa durante 20 anos por sua prima, a rainha elizabeth 1ª, que corta sua cabeça. na peça, a encenação é mais leve, por vezes engraçada e de uma beleza tremenda.

é uma das peças com o texto mais bacana que vi, daqueles em que a gente presta mais atenção do que em qualquer outra coisa, sobressaindo inclusive à encenação, que por sinal é ótima. o que é a georgette fadel naquela sequencia cíclica no meio do palco, uma mulher atual, de 1800, uma workaholic, uma sonhadora, uma louca? e isabel teixeira? não é a toa que ganhou o prêmio shell de melhor atriz por este trabalho.

o espetáculo começa de forma despretenciosa, metalinguística e depois vai ganhando caráter denso, a luz baixa, a música tétrica (sempre quis usar esta palavra num texto!), e quase chega a cansar, mas as atrizes seguram a onda de tal forma, que prendem o espectador. com uma mistura de temas, entre eles a briga entre religiões e tradições monárquicas, aquele duelo entre as rainhas [que também é entre as atrizes no palco], a peça flui de tal forma que as quase duas horas de duração passam sem que o público perceba.

e em meio aos passeios pelo que é real, o que é encenação e o que é adaptação, o público decide o final da peça. vox populi vox dei? bom, quem for ver a peça perceberá que não é bem assim. na vida real, quem decide nosso destino somos nós mesmos. e a pergunta que fica:

cadê meu coração?
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domingo, 10 de maio de 2009

não se fazem mais filmes de ação como antigamente



blá blá blá

sabe quando você cansa deste excesso de cults e suas roupas e seus livros e seus discos e seus filmes e sua arte contemporânea e suas peças de teatro e suas teses de mestrado e o escambau. eu amo tudo isso, sério, de coração. amo o espaço unibanco, o belas artes, o reserva cultural. adoro passear e gastar o que não tenho nas livrarias cultura e fnac. não dispenso um passeio pela paulista, descendo a augusta, parando pra comer no bar do estadão, metrô anhangabaú. auditório ibirapuera, credicard hall, theatro são pedro, itaú cultural, satyros. sesc, sou apaixonado por cada unidade. restaurantes bacanas ou botecos de esquina, bares descolados, lojas legais, enfim, todo mundo sabe que sou aberto aos mais diferentes estilos de tudo. mas de repente me vejo tão cansado escrevendo minha monografia, que só penso em jogar duas coisas: videogame e conversa fora com os amigos, mesmo que a desculpa seja ver um show, um filme ou uma peça bacana.

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diálogos onomatopéicos

e pra fugir do circuito cult, decidi então ver X-MEN ORIGENS - WOLWERINE e relembrei o quanto são bons estes filmes. lembro de ter ido à estreia dos anteriores, ter comprado todos os kits com bonés, camisetas etc. bom, voltando à sessão de cinema! no começo do filme tudo perfeito como eu queria. efeitos especiais babacas e bem feitos (amo), diálogos onomatopéicos do mal (PÁ, POW, UUGH e 'vou te matar', 'meus poderes são mais fortes que os seus'), carros em alta velocidade, pessoas que voam, congelam e leem pensamentos, enfim, tudo isso que foi chupado e indevidamente apropriado pela novela da record.

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diga NÃO aos sentimentos em filmes de ação ou 'eu quero ver sangue'!

tudo estava perfeito até eu descobrir que o logan (wolwerine) é irmão do victor creed (dentes-de -sabre) e dele apresentar sua namorada, uma mutante que tem o poder de persuasão ao tocar em alguém. daí o filme degringolou. eu não estava a fim de pensar, nem sentir nada, só me divertir, mas a coisa começa a ficar complexa. ora, pra que enfeitar um roteiro de X MEN? eu quero o logan matando todo mundo com aquelas garras, quero vê-lo brigar com o victor, matar os inimigos, enfim. não foi nada disso. e além de tudo, o filme tem um final TRISTÍSSIMO.

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lucas versus logan

update: logan é lucas em grego, hebraico, aramaico ou alguma coisa assim. não fora os músculos, o cabelo, a barba e as garras, diria que eu sou o wolverine. RÁ!

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sexta-feira, 8 de maio de 2009

labuat, soy tu aire


se, ao criar este site, o objetivo do projeto LABUAT, de virgínia maestro e risto mejide, era promover pela internet o primeiro single, soy tu aire, acertaram em cheio. a música é por si só uma delícia, mas a ideia de criar um site em que você pode pintar a música e com imagens tão belas, foi sensacional. é só acessar este endereço e começar a gravar. posto isso porque há tantas coisas bonitas neste mundo e são estas que precisam ser valorizadas. ah, a voz de virginia é ótima, ouça no myspace ou na last.fm, e este comentário sobre a cantora, tirada do release de lançamento do disco diz tudo:

[virginia] es flexible, capaz de ofrecerse tanto con aire ingenuo como de guiñar un ojo con picardía, contenida y matizada, sin querer enseñarlo todo, con buen swing para sacar adelante un repertorio nada fácil de cantar. Hay que ser muy buena para ser la cantante de Labuat y Virginia Maestro demuestra que lo es.






ah, quem deu a dica foi essa moça aqui.
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terça-feira, 5 de maio de 2009

O cão sem plumas, João Cabral de Melo Neto


[daí que, na casa de um colega, digo que amo este poema. e ele, pra esnobar, mostra o livro autografado pelo próprio joão cabral. e eu, que não sei nada de poesia, amo. amo como quem não conhece, por isso amo. amo a construção dos versos, a simplicidade das palavras e a complexidade das ações repetidas. gosto da sonoridade, gosto da relação do rio com o homem com o cão e suas margens - a margem do rio à margem do homem, do cão. eu gosto da palavra espessa, eu gosto da voz de joão cabral. como o real é espesso, a maçã é espessa, a árvore é espessa, o poema também é. eu, que não sei a diferença entre poesia e poema, admiro joão cabral de melo neto. admiro a literatura, admiro palavras umas após as outras numa linha horizontal e admiro versos pequenos e bonitos, uns abaixo, outros acima. com rima ou sem rima. gosto mesmo é de poema. e de poesia]


IV. Discurso do Capibaribe 

Aquele rio 
está na memória 
como um cão vivo 
dentro de uma sala. 
Como um cão vivo 
dentro de um bolso. 
Como um cão vivo 
debaixo dos lençóis, 
debaixo da camisa, 
da pele. 

Um cão, porque vive, 
é agudo. 
O que vive 
não entorpece. 
O que vive fere. 
O homem, 
porque vive, 
choca com o que vive. 
Viver 
é ir entre o que vive. 

O que vive 
incomoda de vida 
o silêncio, o sono, o corpo 
que sonhou cortar-se 
roupas de nuvens. 
O que vive choca, 
tem dentes, arestas, é espesso. 
O que vive é espesso 
como um cão, um homem, 
como aquele rio. 

Como todo o real 
é espesso. 
Aquele rio 
é espesso e real. 
Como uma maçã 
é espessa. 
Como um cachorro 
é mais espesso do que uma maçã. 
Como é mais espesso 
o sangue do cachorro 
do que o próprio cachorro. 
Como é mais espesso 
um homem 
do que o sangue de um cachorro. 
Como é muito mais espesso 
o sangue de um homem 
do que o sonho de um homem. 

Espesso 
como uma maçã é espessa. 
Como uma maçã 
é muito mais espessa 
se um homem a come 
do que se um homem a vê. 
Como é ainda mais espessa 
se a fome a come. 
Como é ainda muito mais espessa 
se não a pode comer 
a fome que a vê. 

Aquele rio 
é espesso 
como o real mais espesso. 
Espesso 
por sua paisagem espessa, 
onde a fome 
estende seus batalhões de secretas 
e íntimas formigas. 

E espesso 
por sua fábula espessa; 
pelo fluir 
de suas geléias de terra; 
ao parir 
suas ilhas negras de terra. 

Porque é muito mais espessa 
a vida que se desdobra 
em mais vida, 
como uma fruta 
é mais espessa 
que sua flor; 
como a árvore 
é mais espessa 
que sua semente; 
como a flor 
é mais espessa 
que sua árvore, 
etc. etc. 

Espesso, 
porque é mais espessa 
a vida que se luta 
cada dia, 
o dia que se adquire 
cada dia 
(como uma ave 
que vai cada segundo 
conquistando seu vôo).


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domingo, 3 de maio de 2009

virada cultural 2009

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bom de blog é isso. a gente escreve um diário e quando quer reler é só procurar no arquivo. por exemplo, se quero saber como foi a virada de 2007 clico aqui. de 2008, aquiaqui e assim vai. e sobre este ano...
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quarto ano que vou à virada e viro.
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vejo tudo o que posso e ando. paro, converso, como. sempre o mesmo roteiro geográfico, óbvio e não planejado, que inclui descer a augusta, pegar o vale do anhangabaú, jantar beirut no estadão (este ano troquei por nhoque), avenida são joão, república e tal. deitar na grama é lei.
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desta vez, comecei no cine olido. assisti eu, você e todos nós, filme que amei. depois parti pro hsbc belas artes. queria ver o melhor filme do mundo [amor à flor da pele], mas perdi a sessão. acabei ganhando ingresso pra ver outro filme e ainda participei de uma festa regada a coca zero, cerveja gold, suco del valle e macarrão da petybon (hey promotor da petybon que me deu o ingresso, como prometido, estou aqui falando do macarrão petybon. 
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petybon, petybon, petybon. tá bom? obrigado pelo ingresso, mas não deu tempo de ver o filme....
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saí de lá pra fazer o meu. é... junto com um colega, gravamos um video para o festival do minuto e vamos ganhar 5 mil reais com ele.
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ando, ando, ando, até não ter mais forças e paro [sempre] no banco do brasil da galeria olido pra um cochilo. meu lugar lá está guardado, é naquele cantinho esquerdo, atrás da bancada. dormi com duas lésbicas lindas ao lado.
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deito, faço minha mochila de travasseiro e durmo 30 minutos até ser acordado pela guarda.
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o café é sempre naquele bar quase em frente à galeria do rock. este ano mudei, fui pra república. quatro reais num misto quente gorduroso mais dois reais num café chinfrim.
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sobre as atrações, mais do mesmo. nada do que estava ali me agradaria ver, a não ser novos baianos, que perdi, por ter de voltar pra casa com uma dor de cabeça dosinfernos. 30 horas acordado não é mole não.
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algumas ligações e dezesseis mensagens no celular, mas só desencontrei amigos. disseram que a telefonica deu pau, não sei, enfim.
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melhor show foi o do beto barbosa.
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e ponto.
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final.
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sábado, 2 de maio de 2009

nekrópolis, na escola livre de teatro

estes dias estava falando com um amigo, professor universitário de teatro, sobre os espetáculos musicais que vêm para o brasil. concordamos que 'chicago' foi um horror, 'grease', uma piada, que o fantasma da ópera nos estados unidos e londres são ótimas, mas aqui deixou a desejar. mas o que mais concordamos é que a peça nekrópolis é maravilhosa.

não sei se posso chamar de musical, mas é uma peça linda, cheia de atores em cena, e mostra um trabalho coletivo impecável. e não digo isso por ter amigos no elenco. confesso que nem tinha lido a sinopse, mas quando li, achei que seria super chato. não foi. apesar do tema um pouco pesado, as músicas entram como se fossem um intervalo em meio a tanta tensão.

"No palco é montado um julgamento. O acusado: um grupo terrorista. O jurí: o público. É este o contexto de Nekropolis, montagem do Núcleo 10 de Formação do Ator da ELT de Santo André. A trama fala sobre um grupo terrorista que desenterra cadáveres de pessoas que, em vida, não tiveram voz na sociedade: os excluídos. Dessa forma, expõe a negligência e a impunidade de um governo"
a peça fica em cartaz até 31 de maio, aos sábados e domingos, às 20h30, com entrada franca.
escola livre de teatro - pça rui barbosa, sn, santo andré, próxima a estação prefeito saladino.

só posso deixar meus parabéns a este grupo da elt, que na minha opinião, são mais que profissionais.

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