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segunda-feira, 30 de abril de 2007

é proibido proibir


proibido proibir, filme de jorge durán, é o recorte de um período curto na vida de três jovens universitários. caio blat é o garoto da medicina que fuma maconha o tempo todo e faz sexo na cobertura do hospital em que faz estágio. alexandre rodrigues estuda sociologia, é o melhor aluno da classe e tem um projeto com crianças pobres. sua namorada, maria flor, faz arquitetura, tem carro, acha que droga deixa as pessoas idiotas e não curte a idéia de casamento. depois de se envolverem com uma paciente do hospital onde caio trabalha, passam a conhecer um mundo diferente de suas realidades: miséria, violência e opressão.


o título remete à uma das frases que estudantes e trabalhadores franceses pregavam em maio de 1968, num episódio que incluiu greves, manifestações e paralelepípedos voadores. o cheiro era de gás lacrimogêneo e o som, de bombas. mas não foi só isso. havia ali – e falta hoje, principalmente no brasil – pessoas que realmente acreditavam e não apenas discursavam, mas agiam de acordo com o que pensavam. eles viviam aquilo que pichavam nos muros.


quase na mesma época, mesmo sob a repressão da ditadura militar, nascia no brasil o tropicalismo, movimento artístico e comportamental que propagava, entre outras coisas, a liberdade. caetano veloso, um dos principais representantes, compôs e apresentou num festival - sob vaias, tomates e ovos, uma canção homônima à frase anarquista dos franceses e ao filme de durán.


as semelhanças entre maio de 68 e a música de caetano são explícitas, enquanto no filme páram no título. não vi nada de revolucionário ou transgressor. o cartaz do filme também engana. a foto traz os três personagens juntos com caras de êxtase e à minha primeira vista pensei se tratar do efeito de drogas ou de sexo. resposta errada. é a última cena do filme, uma das mais marcantes, em que precisam tomar uma séria decisão. talvez o grande lance do filme seja o conflito interno de cada personagem. apesar de não lutarem pela liberdade dos oprimidos, nem por direitos iguais, eles pensam viver esta liberdade até se depararem com uma situação que vem de encontro à boa vida de universitário bancado pelos pais.


em meio a tudo isso, surge a atração da garota pelo melhor amigo de seu namorado. é interessante como o tema é tratado, sem parecer clichê, sem cair no ridículo, nem parecer triângulo amoroso de novela, em que há um cara bonzinho que vai ser traído pela namorada ingênua, com o amigo mais bonito e sedutor.

proibido proibir [em três tempos]

(frança, 'maio de 68')






(caetano veloso, 1968, a música)


A mãe da virgem diz que não. E o anúncio da televisão. E estava escrito no portão. E o maestro ergueu o dedo. E além da porta há o porteiro, sim. Eu digo não. Eu digo não ao não. Eu digo. É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir. Me dê um beijo, meu amor. Eles estão nos esperando. Os automóveis ardem em chamas. Derrubar as prateleiras. As estantes, as estátuas. As vidraças, louças, livros, sim. Eu digo sim. Eu digo não ao não.Eu digo. É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir.


(jorge durán, 2006, o filme)







sexta-feira, 27 de abril de 2007

virada em são paulo

são nessas horas que eu queria ter o poder de estar em vários lugares ao mesmo tempo. como não tenho, preciso fazer escolhas para tentar aproveitar um pouco da virada cultural 2007, que acontece em são paulo nos dias 5 e 6 de maio, das 18h às 18h. ano passado não fui por causa dos ataques do pcc. bobagem. abaixo, o que quero ver e aqui a programação completa. na foto, eu no show do funk como le gusta, que não participará da virada.




Palco Praça da Sé
0h - Nação Zumbi (Da Lama ao Caos 1993)


Palco Boulevard São João/Anhangabaú
20h - O Teatro Mágico

22h - Sergio Dias

0h - Clube do Balanço convida Erasmo Carlos

2h - Grooveria Eletroacústica convida Ed Motta

8h - Karnak

10h - Pato Fu

12h - Premeditando o breque

14h - Língua de Trapo (Disco Azul 1982)

16h - Moraes Moreira e Armandinho (Cara e Coração 1977)

18h - Zélia Duncan

Palco Barão de Itapetininga
4h30 - Golpe de Estado

6h15 - Beatles 4ever (Magical Mystery Tour 1967)

8h - Rogério Skylab 9h45 - Cólera (Pela Paz em Todo o Mundo 1986)

15h - Os Inocentes


Teatro Municipal
18h - Raul de Souza (Sweet Lucy 1977)

21h - João Donato (A Bad Donato 1970)

0h - João Bosco (Centésima Apresentação 1983)

3h - Jards Macalé (Farinha do Desprezo 1972)

9h - Germano Mathias (Ginga no Asfalto 1962)

12h - Sérgio Ricardo (Deus e o Diabo na Terra do Sol 1963)

15h - Zimbo Trio e Fabiana Cozza (O Fino do Fino 1965/Elis Regina e Zimbo Trio)

18h - Paulo Moura (Radamés 1959)

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Largo do Paissandu
Missa conga - 11 horas

Teatro e Circo na Praça da República
21h - Clube da Sabotagem - A melhor fatia ou o que Doroti quer

22h30 - Grupo Experimental de Teatro - Aquele que diz sim e aquele que diz não

14h - Inventa - Desinventa

15h30 - La Mínima - Reprise

17h - Acrbático Fratelli - Circorreria

Palcos Cardeais
Pedreira - Sete Campos - zona sul

12h - Ao Cubo

16h - Cordel do Fogo Encantado

quarta-feira, 25 de abril de 2007

a noite do aquário

uns dizem que foi no bar baiúca, outros, no djalma. mas ninguém discute que a primeira apresentação de elis regina em são paulo tenha sido numa sexta-feira, na praça roosevelt, entre as ruas augusta e consolação. para o dramaturgo sérgio roveri, o local exato não importa. o que vale saber é que neste mesmo dia uma mulher, que viera de um vilarejo portuário prestes a desaparecer do mapa, chora desamparada na praça, por não encontrar o marido, que a trocara por outra. de volta à insólita cidade, sua tristeza apenas aumenta quando o filho mais velho, pedro, a deixa. depois de oito anos longe e quatro cartas enviadas, estas decoradas por josé, o irmão mais novo, pedro volta para buscar a família e levá-la à brasília, cidade que começava a se desenvolver. inicia-se então um jogo misto de silêncios, emoções rasgadas, traumas ressentidos e dor, muita dor. assim é a noite do aquário, em cartaz às sextas-feiras, no espaço dos satyros um. o espetáculo faz parte do projeto 'e se fez a praça roosevelt em 7 dias', que conta com sete peças, uma em cada dia da semana, às 19h, sempre com um autor e diretor diferentes. mais informações em www.satyros.com.br


germano pereira, chico carvalho e clara carvalho (foto de lenise pinheiro)

terça-feira, 24 de abril de 2007

estréia

depois de uma semana falando sozinho, compartilho com vocês o blogue condussão. a grafia errada é apenas por motivo estético. dois ss /ésses/ juntos, na minha visão, formam um caminho tortuoso, uma estrada sinuosa, assim como a vida. lá embaixo, explico mais ou menos o que terá neste caminho. aí ao lado, links de sites e blogues que considero bacanas e úteis (se você é um dos linkados e não quer, avise). para ver os vídeos é só clicar em cima que eles abrem. esta semana tem uns trailers de pequena miss sunshine, trechos de duas peças dos satyros, leituras de marcelino freire e clipes da bjork.


agora que fomos apresentados, fique à vontade para fuçar os links ao lado. alguns dos blogueiros linkados conheço pessoalmente e são pessoas magníficas. de outros conheço apenas textos, que obviamente admiro, caso contrário não recomendaria.


comentários e impressões pelo e-mail
lucaspguedes@hotmail.com

volte em breve para saber outras novidades.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

loucura de harau

eduardo de araújo teixeira (eduardo harau) é um dos quatrocentos e treze mil, novecentos e quarenta e três moradores de mauá, cidade do abc paulista com noventa e um por cento de alfabetizados, trinta e uma escolas municipais, três hospitais, quinhentas e trinta e seis indústrias e três ambulatórios de saúde mental. é doutor em literatura pela usp, professor, roteirista, blogueiro, ensaísta, cineasta e ainda assim, considera-se o mais comum entre os comuns. seu talento para escrita ainda não lhe rendeu dinheiro nem fama, mas suas aulas o tornaram recordista em cantadas e mensagens de alunas e alunos apaixonados pela forma com que maneja a língua portuguesa e suas regras gramaticais.

abaixo, ajo como um chato e, para estragar a surpresa, conto em conto o final de seu novo curta-metragem, a loucura de isabela.

Quando conseguiu alcançar a altura certa da porta e mirar a televisão na sala de visitas, uma poética lágrima escorreu do olho esquerdo de Isabela. A tevê do sanatório só sintonizava dois canais, e não havia som. Era o macaquear de bocas mudas que Isabela tentava preencher com um turbilhão de memórias mal sintonizadas. Lamentava que já não se aplicassem choques elétricos no manicômio porque assim ao menos, pensava, poderia sentir-se viva, ativa e luminosa, como um televisor de plasma, 32 polegadas.

mais eduardo e mais isabela aqui.

sábado, 21 de abril de 2007

pra mim, chega

tinha 28 anos quando morri, em 1972. fui, como vocês chamam hoje, um homem-multimídia. jornalista, ator, cineasta, escritor, poeta, músico... tive letras musicadas pelos amigos gilberto gil, edu lobo, caetano veloso, maria bethânia, nana caymi. tive amigos importantes, mulher, filho. ah! fui um dos idealizadores da tropicálica, já ouviu falar? viajei pela europa, américa do norte. fui comparado a kerouac, ginsberg. que nada! (será que é por causa da bebida?) tive contato com o movimento concretista e do cinema conheci júlio bressane, sganzerla. conheci também hélio oiticica e mais uma cambada de loucos como o waly salomão. como será que estão hoje? eu não sei. sei que um dia depois do meu aniversário me tranquei no banheiro, cobri a janela e as frestas da porta com jornal. liguei o gás do aquecedor e morri. fui pra não voltar e não volto mais desse meu caminho. antes, deixei um bilhete em que escrevi, entre outras coisas, o seguinte: “tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. pra mim chega! não sacudam demais o thiago, que ele pode acordar”. não sei dizer se fui feliz. fiz muitas coisas que quis, mas a verdade é que sempre me senti oprimido, não sei dizer por que ou por quem. conheça minha ´obra´, leia o que escrevi e vai perceber um pouco desta angústia. soube que minha mãe nunca mais foi ao rio de janeiro, colocando na cidade a culpa de minha morte. já meu pai adotou mais de trinta crianças e montou uma creche. meu filho virou piloto de avião e da minha mulher não sei. mas soube que, juntamente com a empregada, procurava restos de escritos que eu rasgava ou queimava quando ficava deprimido e com raiva. com raiva ficou ela, há alguns anos, quando lançaram um livro sobre mim. o autor disse que eu era bissexual, que tive um caso com caetano. não perco meu tempo com esta bobagem. bom, fico por aqui. pelo que soube, o mundo continua uma droga e o brasil, um lixo.


A poesia é o pai da ar-

timanha de sempre: quent

ura no forno quente

do lado de cá, no lar

das coisas malditíssimas;

alô poetas: poesia!

poesia poesia poesia poesia!

O poeta não se cuida ao ponto

de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo

já sabe: não está cortando nada

além da MINHA bandeira ////////// =

sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar.

Isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a

r: em primeiríssimo, o lugar.



poetemos pois


[mais torquato neto aqui]

sexta-feira, 20 de abril de 2007

pseudocultura

era aniversário de são paulo quando ouvi, pela primeira vez, o termo pseudocult. foi num show do tom zé, que tocara antes dos mutantes e depois da nação zumbi. quem disse foi um garoto revoltado com tanta gente igual-mas-diferente num show daquele tipo. explico: um bando de jovens que se dizem ‘alternativos’ juntos. segundo o aurélio, alternativo é aquilo ‘que não está ligado aos interesses ou tendências políticas dominantes’. cult não está no dicionário, mas pode ser entendido por, pelo menos, duas formas da palavra culto, derivadas do mesmo latim cultu. no primeiro momento pode ser culto, sinônimo de adoração, reverência. Depois, refere-se àquele quem tem cultura, é instruído, civilizado, adiantado. segundo o garoto, ali não tinha ninguém alternativo. nem culto. pelo que entendi do que ele disse, havia ali jovens ricos da puc e da usp, que têm seus bons carros e casas, não trabalham e freqüentam as baladas mais caras da cidade. entretanto, para parecerem mais inteligentes e cultos, freqüentam também shows de artistas desconhecidos ou que não toquem em rádio, não aparecem no faustão, nem gugu. geralmente estes artistas têm poucos fãs, os chamados cults e pseudocults. detalhe: estes artistas cults ou alternativos, deixam de o ser quando aparecem na globo. podem aparecer na cultura ou algum canal pago. jamais na globo. já os fãs, cults e pseudocults ficarão revoltados, assim como aquele garoto, ao saber que milhares de pessoas também gostam do mesmo artista. por isso a revolta. aposto que se o revoltado fosse ao show e houvesse ali poucas pessoas, ele se sentiria melhor, pois estaria contra a massa que lota praças em apresentações sertanejas gratuitas. como pode um show do tom zé com mais de vinte mil pessoas?! não pode.



se você não entendeu nada, esqueça e leia esta definição de pseudocult que achei num blogue:

o microconto do pseudocult desenturmado


odiava kubrick. interessou-se por laranja mecânica para conseguir amizades.



ah!1 - sei que pseudocultura é um termo antigo e tem outros significados, mas gostei do nome e quis usar.


ah!2 – a reflexão do garoto revoltado me fez pensar na moda do pseudocult e gerou três textos que postarei aqui em breve: os mandamentos do pseudocult no cinema, na música e no teatro.


ah!3 – adivinhem quem encontrei estes dias nos corredores da puc? o garoto revoltado.


quinta-feira, 19 de abril de 2007

sonho

"só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos"


ah, fernando (pessoa), pelo menos você tinha sonhos...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

volta

renasce o blogue .condussão


o antigo morreu antes que completasse um mês. foram apenas oito postagens, sessenta e um comentários e setecentos e vinte acessos (juro que não fui eu). isso em agosto de 2005.quase dois anos depois resolvo voltar, sem nenhum motivo especial, pois sei que logo vou cansar e abandonar o blogue. este será mais um entre os milhões. sem pretensão nenhuma de ser lido (mentira, se não quisesse, não divulgaria), sem querer bater recorde de visitas ou comentários (verdade), sem trazer muitas novidades ou coisas que possam interessar. é apenas mais um.

depois de estudar blogues por um tempão e ter escrito um livro sobre o assunto, percebi o quão importante é, para alguns, o fato de ser ouvido/lido. outros, como eu, preferem garimpar blogues por aí, sejam eles pessoais, literários, artísticos, comerciais, culturais. confesso que é um vício.


basicamente, este abordará assuntos relacionados à arte e seus diversos discursos de linguagem, cinema, teatro, literatura, música, história, sociedade, relacionamentos, viagens, notícias, religião, enfim, mais do mesmo. e também algo sobre minhas pesquisas na área de comunidades virtuais (ódio na internet), cultura (o teatro pós semana da arte moderna) e hipocrisia na sociedade pós-moderna.


espero sem esperar que me acompanhem.


até.