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terça-feira, 31 de julho de 2007

sonhei que morri

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[pela primeira vez sonhei que morri. aos poucos o sangue parou de circular, o coração foi batendo cada vez mais devagar e o ar quase não entrava em minhas narinas. antes, porém, com a família toda em volta da cama, dei as últimas instruções sobre a divisão de meus bens. vendam tudo, eu disse. abram um sebo e vendam os livros à um, dois e cinco reais. os mais finos, um real. os médios, dois e os mais espessos, cinco. apontei para conversa na catedral, do vargas llosa, que estava há anos na prateleira e nunca foi lido. cinco reais. pode vender este aí por cinco reais que tá bom. vendam também os discos, cds e vhs. foi então que alguém perguntou porque eu estava morrendo. eu não lembrava. mas comentei que aquela era uma morte boa. tanta gente morre em desastre de avião, em assassinato e muitas vezes nem há tempo de se despedir. eu tinha aquela oportunidade. levantei, fui ao banheiro e, na volta, não tinha mais forças para subir os degraus da escadinha que me levava ao andar de cima da beliche. foi então que percebi os braços vermelhos. eu não estava doente, não estava sofrendo, não tinha dores, marcas, manchas, machucados. era apenas o cansaço. com ajuda de quem não me lembro, subi. uma última olhada para os que estavam ao meu redor - eram poucos, e ouvi: é agora. depois disso, só lembro da minha mãe me sacudindo dizendo que eu estava atrasado para o trabalho. decidi que nunca mais quero morrer]
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segunda-feira, 30 de julho de 2007

querô, o filme





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a primeira impressão que tive ao ver o início do filme, com estréia prevista para setembro, foi a de que seria uma espécie de carandiru versão adolescente (inclusive com alguns atores que participaram dos dois filmes). no decorrer da exibição esta impressão não se desfez.

o filme é baseado no livro de plínio marcos (querô, uma reportagem maldita) e conta a história do garoto cuja mãe, prostituta, suicidou-se ao tomar querosene. ele foi criado na zona portuária de santos pela dona do prostíbulo em que a mãe trabalhava, mas acaba se envolvendo com o crime. é preso. lidera uma rebelião e foge. após a fuga, é 'adotado' por uma senhora evangélica e se apaixona pela sobrinha do pastor.

por um momento achei que o garoto ia mudar de vida após conhecer a garota. ele também achou. conseguiu emprego, comprou roupas novas, ficou até mais bonito. mas o 'caminho do mal' parecia estar no sangue de querô, como uma coisa incontrolável, que nada, nem família, nem religião, nem mulher, poderia fazê-lo mudar.

desta vez não é a violência do rio, nem de são paulo a retratada e sim, de santos. a maioria dos atores adolescentes veio de regiões pobres do litoral paulista, numa ação parecida com a que fez o pessoal do cidade de deus, com as oficinas de interpretação do grupo 'nós do morro'. as atuações de maria luisa mendonça, milhem cortaz, eduardo chagas, angela leal e ailton graça engrandecem o enredo, mas não há como não destacar o trabalho de maxwell nascimento, que interpreta querô.

apesar de não trazer nenhuma novidade, o filme é bom e gera reflexões que vão além de questões sobre violência. o abandono pela mãe, por exemplo, e o descaso da febem (hoje fundação casa) podem ser tratadas como possíveis causas de uma vida como a de querô.

mais sobre querô aqui.
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sexta-feira, 27 de julho de 2007

para a tua lisar a página


[esta poesia é do ivan antunes, o tatu bola. ele foi mediador de um bate-papo na flap. ele é poeta, aluno de letras na usp e, como diz, "peãotododia e professor e organizador de atividades culturais e mais uma porção dessas coisas". esteve na flip - parati, onde, junto com amigos, furtou um refrigereco de 2 litros. é mais ou menos isso que sei dele. auê.]


coração a tu alisado


esperei email: não veio
angusti lu cid in fin dá vel
disparei apertar o botão
atualizar


a tu alisei a Pá Gina


por prenúncio de tédio total
da tentativa toda teimosa
e de tanta espera
teclei outro jogo
paciência.


nó em papéis de bala pela mesa
olhar da janela a tela por três
vezes
entre copa espada e pau
um balão.
precisava dama fácil
veio rei e balão preto


a tu alisei a Pá Gina


até com a provocação do explode tela:
na propaganda do Sushi Erótico
e nova capa da Revista Bela
dois cliques tristes
nada teu tudo meu


negociei angústias com o Caps Shift e Del
sorri loucos versos imaginados
até gastar divorciar os meus seus botões


a tu alisei a Pá Gina


ERRO no GENERALIZADO:
problema no page cannot be found
assustei o que não deveria assustar
sustei relações com o sistema


saí só num silêncio ressentido
sem atualizar a página.
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quinta-feira, 26 de julho de 2007

livros, livros, livros


como disse ontem, estou correndo atrás do prejuízo literário. então, sempre que posso, passo em sebos à procura de clássicos (ou não). mas a impressão que tenho é que não sou eu quem escolhe os livros. eles que me escolhem. um exemplo é eu ter achado a primeira edição de dona flor e seus dois maridos. a primeira, sabe o que é isso? ali, num cantinho. largado.

engraçado é eu chegar em casa e minha amada mãe dizer: "pra quê tanto livro? você não ler mesmo!" (do mesmo jeito que ela reclamou quando cheguei em casa com 41 fitas vhs, que comprei numa promoção da locadora perto de casa que queria se desfazer das velharias...)

bom, segue abaixo a lista de livros que adquiri nos últimos dois meses.

[ah, fui lembrado pela daniela martins, leitora deste blogue que mora em blumenau-sc e autora do devanear, que ontem foi dia do escritor. abraço a todos e todas]



Dona Flor e seus dois maridos, Jorge Amado

Incidente em Antares, Érico Veríssimo

Ana Terra, Érico Veríssimo

Olhai os lírios do campo, Érico Veríssimo

As aventuras de Tibicuera, Érico Veríssimo

Solo de Clarineta, Érico Veríssimo

Contos de Tchecov

Sonetos, Bocage

Noites do Sertão, Guimarães Rosa

A convidada, Simone de Beauvoir

A ilustre casa de Ramires, Eça de Quieroz

O crime do Padre Amaro, Eça de Queiroz

Éramos Seis, Maria José Dupré

Perestroika, Mikhail Gorbachev

Crime na catedral e Quatro quartetos, T. S. Eliot

História Moderna e Contemporânea, Carlos Guilherme Mota

Poemas escolhidos, Fernando Pessoa

Ética Cristã Hoje, Alan Pallister

Contos Novos, Mário de Andrade

Conversa na catedral, Mario Vargas Llosa

Rei da Vela, Oswald de Andrade
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quarta-feira, 25 de julho de 2007

sobre literatura

capa da minha edição de cem anos de solidão



tá. não precisa me olhar com esta cara de desprezo só porque não li gabriel garcia marquez. também não li joyce, rimbaud, saramago. sério. nenhum livro deles. ah, li um texto ou outro, solto na internet ou em algum curso. mas ler, ler mesmo, não. o fato (ou a desculpa) é a falta de tempo e sempre preferi cinema e teatro (na verdade, teatro e cinema) aos livros.


agora que sabe que sou praticamente um analfabeto em literatura estrangeira saiba que estou tentando correr atrás do prejuízo. comecei o ano lendo uns clássicos e aumento a cada dia minha pequena biblioteca. (leia o post de amanhã) hoje tenho lá 140 livros, dos quais, lidos, ahm... só uns 60 (claro que li mais que isso nestes vinte e seis anos de existência, mas...).


no momento leio 'cem anos de solidão', do já citado marquez, presente do amigo eduardo. na dedicatória, uma profunda mensagem que, entre outras coisas, diz:



"não concordo com a definição de que literatura é um cânone selecionado por um grupinho de especialistas. literatura é o que fica. literalmente, letra que perdura. não como as fotografias que ficam amarelas, ou os filmes que ficam datados nas roupas, nas falas, nos modos de interpretação e ritmos, tudo se convertendo 'registro do passado'. os livros são atos e pensamentos que permancem vivos e se renovam a cada leitura, enquanto nós, viventes, vamos todos para o esquecimento"


não é demais isso? é!
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terça-feira, 24 de julho de 2007

as leis de família




[assisti ontem, na festa de abertura do festival de cinema latino americano. filme simples, bonito, nos leva a (re) pensar nossa condição enquanto parte de uma família. as tais leis familiares que não são ditas ou ditas pelo olhar, ditas por gestos, pelo não-olhar. leis que perpassam gerações e, mesmo sem percebermos, herdamos dos pais que herdaram dos avós e que serão herdadas pelos filhos... o filme é argentino, dirigido por daniel burman. estréia sexta, dia 27/7]







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segunda-feira, 23 de julho de 2007

sobre eventos inúteis

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alguns dos eventos recentes e inúteis que, a cada dia, tem apenas alimentado a hipocrisia de nossa sociedade:
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são paulo fashion week e todos os desfiles de moda,
copa do mundo,
olimpíadas,
eleições,
manifestações políticas na avenida paulista,
marcha pra jesus,
visita do bush e do papa,
carnaval,
parada gay,
concurso de miss,
pan,
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hoje, acordei com vergonha de ser brasileiro.
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sexta-feira, 20 de julho de 2007

[27] - medea, la extranjera - 19 de julho



medea - la extranjera


um espetáculo. além de toda pompa do theatro são pedro (1917), ver uma tragédia grega em espanhol é uma experiência fantástica. o grupo atalaya existe há 25 anos e, segundo informações de seu site, mistura diversas linguagens: o surrealismo de lorca, o futurismo de maiakovski, o expressionismo de heiner muller, o grotesco cruel de valle-inclán e o teatro épico de brecht. o resultado é bom. ah, o diretor, ricardo iniesta disse que também tem influência no cinema, sobretudo de pasolini e lars von trier.


legal foi ouvir cantos étnicos da armênia, grécia, arábia, nepal, tibet, india, indonésia...


legal também ver meu amigo, o max, com cara de "ahn, cadê a legenda?". mas ele entendeu tudinho e, no final, analisou a peça com detalhes de quem prestou bem atenção.


em são paulo fica em cartaz somente até domingo, dia 22, no theatro são pedro. rua barra funda, 171 - 3667-0499.





SINOPSIS DE LA OBRA


Medea escapa de la Cólquide fascinada por Jasón y los argonautas, que llegaron hasta allí en busca del vellocino de oro. La apariencia del héroe griego seduce a la hechicera, que huye con él, pero en Corinto choca con el desprecio, la humillación y la segregación racial. Jasón, en su afán por escalar posiciones, repudia a Medea y se compromete con Glauce, hija de Creonte, soberano de Corinto. Ante el abandono, la hechicera vuelve a sus orígenes y recupere su magia.Sus acciones criminales hacia Glauce y hacia sus propios hijos -fruto de su traicionado enlace con Jasón- no serán por venganza ni por pasión, sino para escapar de un mundo que ya no soporta. La traición, el exilio, la guerra, el amor y la muerte marcan esta obra en lo carnal y en lo emocional.

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quinta-feira, 19 de julho de 2007

zuenir ventura no barco



terminou ontem a série de encontros com escritores promovida pelo barco do virgílio.


passaram por lá antonio cícero, moacyr scliar, sérgio sant'anna e, finalmente, zuenir ventura, intermediados por marcelino freire. aliás, estes encontros fazem parte de um 'curso' de criação literária oferecido pelo barco, cujo 'mestre' é o marcelino. a próxima turma começa em 13 de agosto e já estão confirmados jorge mautner, livia garcia-roza e luis fernando veríssimo. ontem, com zuenir ventura, só posso dizer que foi uma aula de literatura e jornalismo. e um dia especial.

foi bom saber, por exemplo, que o zuenir começou a carreira de jornalista com 29 anos, que se perdeu anteontem em plena rua harmonia, na vila madalena, onde acabara de ser deixado por fernando henrique cardoso após uma entrevista, que foi aluno de manuel bandeira (que não era lá o melhor professor...) e de alceu amoroso lima (um professor-ator), entre outras coisas, que só quem esteve lá pode dizer...

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terça-feira, 17 de julho de 2007

(ir) real


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questão de percepção, por talita guedes

[o texto abaixo é da estudante de psicologia talita guedes. ela ama a lua. e também a psicologia. e a fenomenologia, claro. sendo assim, não é preciso dizer que odeia psicanálise... eu sempre soube que ela era inteligente, afinal, é minha irmã, mas não sabia que escrevia tão bem. seu principal defeito é me ter como modelo, mas isso passa...]


Questão de percepção

Vocês já pararam pra pensar sobre do que são feitos os pensamentos?... O que compõe a Consciência? Mente? Ser? Alma? Espírito? Corpo?... se é que realmente eles existem... E qual resposta seria a correta? se é que existe uma resposta... que dirá correta! Essas indagações são comuns aos estudantes de psicologia, como eu, apaixonada pelas pessoas, pelas relações, pelo funcionalismo existente entre corpo e mente, pelas dúvidas sobre o universo, pela Lua e pelos inúmeros, diferentes e complicados "tipos" de pessoas...

Algumas teorias preferem explicar... outras, optam por interpretar... eu, resolvi usar a teoria que compreende. Compreender no sentido literal da palavra, abranger, incluir, que conter em si, perceber. Para tanto, escolhi a fenomenologia! A fenomenologia é um método, criado por Edmund Gustav Albrecht Husserl, que propõe a extinção da separação entre "sujeito" e "objeto", opondo-se ao pensamento positivista do século XIX. O método fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas, aos fenômenos, àquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional. Seu objetivo é chegar ao conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos, captado de forma imediata.

As essências ou significações são objetos visados de certa maneira pelos atos intencionais da consciência. As coisas, segundo Husserl, caracterizam-se pelo seu inacabamento, pela possibilidade de sempre serem visadas por atos intencionais novos, da consciência, que as enriquecem e as modificam. (Wikipédia).

Cada um de nós percebe o mundo de uma maneira diferente e, por isso, é essencial que exista a compreensão.

Atualmente, as pessoas deixaram de ser indivíduos, tornando-se individualistas. Escravos de seus próprios desejos, ambições e envolvidos de tal maneira com as questões capitalistas, que se esqueceram que são seres humanos convivendo com outros seres humanos. A relação intencional deveria ser mais valorizada, pois um, não é sem o outro (e vice-versa). O ser humano vive entre suas angústias e está cada dia mais propenso à desenvolver uma série de psicopatologias. Tudo isso, por não ser compreendido! Por quê alguém "deve" ser rico, "deve" ser bonito de acordo com os padrões impostos, "deve" ser popular...? As únicas coisas que as pessoas "devem" ser, é felizes e compreendidas!

Quando comecei a estudar psicologia, entrei em crise, porque não queria que o louco virasse normal, e fosse inserido na sociedade. Eu queria que ele continuasse louco, porém feliz! Não queria explicar porque ele era louco, nem interpretá-lo realizando um diagnóstico. Queria simplesmente contribuir para seu bem-estar psíquico. Ninguém é igual à ninguém, e não é por ser diferente, que se é errado. Claro, desde que sua percepção não cause perigo para si próprio e o outro. Aprendamos compreender o outro, para assim nos tornarmos de fato seres humanos. Aceitar as outras idéias, estar abertos à novos olhares, manter relações intencionais com o próximo... entendendo o outro, do modo que é, sem interpretações, ou explicações.
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domingo, 15 de julho de 2007

deixei a religião de lado


[no trem, sábado, 23h46]

_márcia, te contei que deixei a religião de lado?
_nem sabia que tinha religião.
_eu tinha, era evangélico, lembra?
_ah, eu nunca fui em igreja.
_eu ía, mas depois do que fizeram com minha avó... nunca mais!
_o que aconteceu?
_sabe quantas pessoas da igreja foram em seu velório? seis! numa igreja de mil membros! agora, estão vindo atrás de mim, me ligando. antes não faziam nada disso.

agora eu quero é breja pra esquecer as idiotices que o pastor falava.

é... deixei mesmo a religião de lado.

_ah, eu nunca fui em igreja.
_ eu ía...
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sexta-feira, 13 de julho de 2007

muito mais que simples imagens

[sabe aquela história de que uma imagem vale mais que mil palavras? então. é isso que a jovem fotógrafa anna carolina negri faz. a conheci num casamento de amigos em comum e nos tornamos amigos de orkut. ela fotografa pessoas, janelas, xícaras, paisagens, prédios, tudo. a diferença é que, por causa de seu talento e criatividade, consegue mostrar mais que uma simples imagem. entre outras coisas, já teve fotos publicadas em jornais famosos e numa mostra na casa do olhar, com 'artistas' do abc paulista. abaixo, uma pequena demonstração de sua arte. para ver outras, clique aqui e entre em seu blogue, que também está linkado ao lado.]












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quinta-feira, 12 de julho de 2007

arte alternativa?



bem interessante a programação de eventos da academia brasileira de letras para o segundo semestre deste ano. estamos tão acostumados a criticar o tradicional que, às vezes, esquecemos de valorizar os clássicões da literatura, aqueles que são considerados cânones e aqueles que são fenômenos de vendas. na flap, por exemplo, o nome de paulo coelho só não foi mais pronunciado que o de marcelino freire e sempre com conotação negativa, como se sua literatura fosse ‘menor’. o mesmo acontece no cinema, no teatro e em todas as artes. costumamos reverenciar, por exemplo, qualquer filme francês que estréia em nossas salas. é cult. acreditamos serem superiores ou então alternativos. ok, estes filmes são alternativos aos holliwoodianos, dominadores do mercado cinematográfico. mas é isso. um mercado. amelie poulain é um ótimo filme, mas é comercial, oras. no teatro adoramos meter o pau nas super-produções. mas será que aquilo não é arte também? só porque tem artistas da globo, não é teatro? como um amigo do meio disse uma vez:

‘todo artista é alternativo até receber um convite’

será que escritores alternativos assim se consideram por não terem sido aceitos em grandes editoras, porque não venderam tanto quanto paulo coelho, porque não foram convidados a participar da flip? é escolha ou circunstância? alternativa é a forma, o conteúdo, o princípio, o valor, o resultado? é possível um filme alternativo com patrocínio de empresas privadas ou do governo? por que ‘cão sem dono’ do beto brant está em apenas uma sala no mundo todo, enquanto harry potter estréia em 750 só no brasil? bom, o tema é amplo demais e merece mais cuidado. eu só queria dizer que achei bacana a programação da abl.
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quarta-feira, 11 de julho de 2007

festival de cinema latino-americano

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começa dia 23/7 o segundo festival de cinema latino-americano, em são paulo. além dos mais de cem filmes – entre clássicos e inéditos, haverá debate-papo com uns bambas do cinema latino, como o diretor de fotografia pedro farkas (desmundo, zuzu angel, não por acaso), karin aïnouz (madame satã, o céu de suely), a atriz mechicana vanessa bauche, de amores perros e outros.


programação completa aqui.


segundo festival de cinema latino-americano de são paulo


23 a 29 de julho, em diversos horários

memorial da américa latina - av auro s. de moura andrade 664, barra funda
(11) 3823.4600

cinesesc - rua augusta 2075, cerqueira cesar
(11) 3082.0213

sala cinemateca - largo senador raul cardoso 207, vila mariana
(11) 5084.2177


grátis.

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terça-feira, 10 de julho de 2007

fim de semana em curitiba

[roubei estas fotos na internet porque não levei câmera. já tinha estado em curitba há um ano, no festival internacional de teatro, cujas fotos publicarei esta semana. é uma cidade grande, com todos os problemas de cidades grandes. mesmo assim, é linda demais, cheia de parques, praças, árvores, ruas largas, pessoas bonitas. na casa lilás, que fica ali no centrinho, tem um bolo de chocolate muito bom. aliás, a casa lilás é um espacinho bem legal, que aparentemente não tem nada interessante. mas tem. tem artesanato, livros, um quintal enorme nos fundos e uns funcionários simpáticos que sabem quase tudo sobre a cidade, inclusive sobre o dalton trevisan, escritor-mito daquela cidade. só não sabiam onde ficava a casa mal-assombrada dele. quer dizer, pela cara que o menino fez quando eu perguntei, percebi que ele sabia, mas, para o meu próprio bem, preferiu não mostrar...]
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sexta-feira, 6 de julho de 2007

a imensurabilidade do vão

desconheço a medida exata do vão que separa o resto
de mim.

imensurável o vão,
desconhecida a medida,
o que me resta agora é
fechar os olhos e,
leve,
repousar à espera de quem
(quem?)
destruirá a barreira oca do incômodo,
discorrerá sobre a filosofia medíocre do abandono,
percorrerá as linhas finas da memória opaca e,
sem mais,
nem menos,
ocupará o espaço vago que está ali,
à espreita,
entre mim e o vão,
entre o vão e o outro,
entre mim e o vão e o outro,
pronto para,
pesado,
abrir meus olhos e,
o que me resta agora é
conhecer a medida exata do vão imensurável,
e nada mais.
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.lucas guedes
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quinta-feira, 5 de julho de 2007

“De perto ninguém cheira tão bem”


[segue texto da jornalista fabiane espírito santo, escrito especialmente para este blogue. ela também é apaixonada por teatro e escreveu um livro sobre o jornal 'o sarrafo', periódico dedicado a debater questões do real papel do teatro e tal...]


"De perto ninguém cheira tão bem"

por fabiane espírito santo

Certa vez ouvi essa frase em uma peça de teatro (que já não me lembro qual foi) e com ela na cabeça, passei a ruminar seus possíveis significados e desdobramentos. Lembrei-me das experiências vividas, as quais senti o quanto a realidade é implacável. Sem ilusões, tudo é apenas o que é. Uma delas foi o êxtase e a decepção da descoberta de um universo mágico, capaz de por em xeque todos os moralismos, demagogias. Lacuna onde tudo pode conjugar em seus palcos. Tudo cabe, com inteligência e criatividade para arriscar: O teatro.

Grandes cabeças espiram seus ideais de liberdade de expressão, igualdade e democratização da cultura, fim do elitismo. Discurso bonito! Como mero público, de tanto preencher um pequeno espaço nas platéias e de tanto insistir para me aproximar da arte que me encanta, passei a dialogar mais de perto com esse universo, foi aí que senti um arrepio. Frases como: "Não devemos abrir debates após as apresentações, pois o público não tem nada a ver, a grande maioria não entende o que se passa no palco...Os nossos públicos são os amigos pertencente à própria classe teatral...", revelam o quanto o público é deixado à margem.

Contradição?

Não é que percebi a demagogia plantada no discurso dos mestres! Por vezes tive a sensação de adentrar em um meio restrito, apenas para os escolhidos. Precisam do público, mas o querem longe? Será que é isso mesmo? Em outro episódio, não consegui ver única apresentação de O Nome do Sujeito, vi apenas a classe teatral, pouco a pouco, ao longo de duas horas, entrando com seus convites. Eu e outras tantas ficamos de fora, éramos apenas pessoas, público pagante.

Elitismo?? Sim, há muito no meio teatral.

Exceções? Sim, há.

Salve aqueles que têm coragem de quebrar o protocolo para abrir a roda, colocando as mesinhas na calçada de seu teatrinho e assim construir uma ponte entre classe e mero público.

Observem, selecionem, tirem as próprias conclusões.

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terça-feira, 3 de julho de 2007

à minha amiga ivani


saudades todas de ivani de oliveira, a amiga que, há 10 anos (quando eu tinha 16 e ela 23) me influenciou e incentivou a fazer um monte de coisa, como escrever poesia. naquela época escrevi mais de 20. ela escrevia muitas e me mandava pelo correio. não tínhamos internet. ela escrevia - à mão - cartas com 10, 12, 15 páginas. e não era uma carta por ano, nem por mês. era uma por semana. me contava tudo. eu respondia. ela era de belém do pará. foi com ela que aprendi a gostar do radiohead, secos e molhados, chico buarque, beethoven, drummond. ela estudava direito na ufpa, mas cantava numa banda chamada nonsense. sofreu um acidente de carro, quase morreu. com o braço engessado, passou a me escrever usando a máquina, datilografando letra por letra com o dedo indicador. ela me mandava as canções que compunha e eu, do lado de cá, fazia a música, a melodia, o arranjo. quer dizer, no meu imaginário. no dia do meu aniversário, ela escreveu uma música pra mim. chama-se 11 de janeiro e começa assim:

pra você que nasce, pra você que cresce, pra você que sobe e não desce... eu vou é decolar também.

ah! foi por causa dela também que passei a torcer para o vasco, mas isso não tem importância. então, em um dia de natal, recebi uma ligação dela. tinhamos combinado que só nos corresponderíamos por carta. mas ela conseguiu meu telefone com uma tia que trabalhava na telesp ou coisa assim. foi um dos meus melhores presentes até hoje. ela tinha sotaque carioca. eu pouco falava. ela cantarolou sua nova música. eu chorei. ela tinha cabelo curto. disso eu fiquei sabendo quando me mandou uma foto. ela era parecida com a elis. depois ela disse que estava com alguns problemas, ia se mudar. mandei cartas e, quando acordava, a primeira coisa que fazia era correr para a caixa de correio e ver se tinha correspondência dela. consegui seu telefone, mas disseram que, realmente, ela tinha se mudado, mas não tinham o endereço. desde então, não tenho notícias, mas lembro dela todos os dias e torço para que esteja bem.
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segunda-feira, 2 de julho de 2007

satyros, vestido de noiva


enganado pelos satyros

quando soube que os satyros apresentariam, junto com a norma bengell, uma leitura de vestido de noiva, de nelson rodrigues, fiquei curioso e pensei cá comigo: nelson e satyros tem tudo a ver. eles deviam era fazer uma peça de nelson, não só uma leitura... na verdade eram só algumas cenas e a apresentação faz parte de um projeto bacana do itaú cultural, algo como um complemento à enciclopédia de teatro deles. então fui, sábado, no intervalo da flap, (que acontecia ali ao lado, na casa das rosas) ver a tal leitura no itaú. quando cheguei não vi aquelas cadeiras, uma ao lado da outra, como de costume em leituras. o cenário estava montado, a iluminação, música... tudo pronto para o espetáculo. sim, foi um espetáculo. a única diferença é que estavam com o texto à mão (e penso que talvez nem precisassem). enfim, foi um momento especial, emocionante. norma, alberto guzik, ivam. ivam falando das primas... ivam dançando com cleo de páris, ivam mostrando que é um dos melhores atores deste país. tudo muito bonito. e saí de lá me sentindo enganado, pois o que vi foi muito mais que uma leitura.


mais sobre o projeto, aqui.