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quinta-feira, 5 de julho de 2007

“De perto ninguém cheira tão bem”


[segue texto da jornalista fabiane espírito santo, escrito especialmente para este blogue. ela também é apaixonada por teatro e escreveu um livro sobre o jornal 'o sarrafo', periódico dedicado a debater questões do real papel do teatro e tal...]


"De perto ninguém cheira tão bem"

por fabiane espírito santo

Certa vez ouvi essa frase em uma peça de teatro (que já não me lembro qual foi) e com ela na cabeça, passei a ruminar seus possíveis significados e desdobramentos. Lembrei-me das experiências vividas, as quais senti o quanto a realidade é implacável. Sem ilusões, tudo é apenas o que é. Uma delas foi o êxtase e a decepção da descoberta de um universo mágico, capaz de por em xeque todos os moralismos, demagogias. Lacuna onde tudo pode conjugar em seus palcos. Tudo cabe, com inteligência e criatividade para arriscar: O teatro.

Grandes cabeças espiram seus ideais de liberdade de expressão, igualdade e democratização da cultura, fim do elitismo. Discurso bonito! Como mero público, de tanto preencher um pequeno espaço nas platéias e de tanto insistir para me aproximar da arte que me encanta, passei a dialogar mais de perto com esse universo, foi aí que senti um arrepio. Frases como: "Não devemos abrir debates após as apresentações, pois o público não tem nada a ver, a grande maioria não entende o que se passa no palco...Os nossos públicos são os amigos pertencente à própria classe teatral...", revelam o quanto o público é deixado à margem.

Contradição?

Não é que percebi a demagogia plantada no discurso dos mestres! Por vezes tive a sensação de adentrar em um meio restrito, apenas para os escolhidos. Precisam do público, mas o querem longe? Será que é isso mesmo? Em outro episódio, não consegui ver única apresentação de O Nome do Sujeito, vi apenas a classe teatral, pouco a pouco, ao longo de duas horas, entrando com seus convites. Eu e outras tantas ficamos de fora, éramos apenas pessoas, público pagante.

Elitismo?? Sim, há muito no meio teatral.

Exceções? Sim, há.

Salve aqueles que têm coragem de quebrar o protocolo para abrir a roda, colocando as mesinhas na calçada de seu teatrinho e assim construir uma ponte entre classe e mero público.

Observem, selecionem, tirem as próprias conclusões.

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