saudades todas de ivani de oliveira, a amiga que, há 10 anos (quando eu tinha 16 e ela 23) me influenciou e incentivou a fazer um monte de coisa, como escrever poesia. naquela época escrevi mais de 20. ela escrevia muitas e me mandava pelo correio. não tínhamos internet. ela escrevia - à mão - cartas com 10, 12, 15 páginas. e não era uma carta por ano, nem por mês. era uma por semana. me contava tudo. eu respondia. ela era de belém do pará. foi com ela que aprendi a gostar do radiohead, secos e molhados, chico buarque, beethoven, drummond. ela estudava direito na ufpa, mas cantava numa banda chamada nonsense. sofreu um acidente de carro, quase morreu. com o braço engessado, passou a me escrever usando a máquina, datilografando letra por letra com o dedo indicador. ela me mandava as canções que compunha e eu, do lado de cá, fazia a música, a melodia, o arranjo. quer dizer, no meu imaginário. no dia do meu aniversário, ela escreveu uma música pra mim. chama-se 11 de janeiro e começa assim:
pra você que nasce, pra você que cresce, pra você que sobe e não desce... eu vou é decolar também.
ah! foi por causa dela também que passei a torcer para o vasco, mas isso não tem importância. então, em um dia de natal, recebi uma ligação dela. tinhamos combinado que só nos corresponderíamos por carta. mas ela conseguiu meu telefone com uma tia que trabalhava na telesp ou coisa assim. foi um dos meus melhores presentes até hoje. ela tinha sotaque carioca. eu pouco falava. ela cantarolou sua nova música. eu chorei. ela tinha cabelo curto. disso eu fiquei sabendo quando me mandou uma foto. ela era parecida com a elis. depois ela disse que estava com alguns problemas, ia se mudar. mandei cartas e, quando acordava, a primeira coisa que fazia era correr para a caixa de correio e ver se tinha correspondência dela. consegui seu telefone, mas disseram que, realmente, ela tinha se mudado, mas não tinham o endereço. desde então, não tenho notícias, mas lembro dela todos os dias e torço para que esteja bem.
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