Páginas

quinta-feira, 31 de maio de 2007

passado



a quantidade de filmes, livros e músicas da primeira metade do século vinte que tem me instigado e feito com que eu me apaixone pela obra artística deste período é indício de que:

( ) sou nostálgico.
( ) estou culturalmente defasado e atrasado.
( ) perdi muito tempo jogando videogame.
( ) daqui a cinqüenta anos serei fã de lost, csi, caetano veloso e paulo coelho.
( ) todas as alternativas.

.

.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

chuva


ontem assisti ao curta-metragem mais simples e bonito do mundo. chama-se regen (chuva), de mil novecentos e vinte e nove, com roteiro, fotografia e direção do holandês joris ivens, que ganhou tributo na última mostra de cinema de são paulo, em dois mil e seis.


não consegui postar aqui, mas dá pra ver nestes links:





.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

a beleza da contradição

foto tirada por mim em vinte e três de maio de dois mil e sete, às cinco e dezesseis da tarde, da janela de minha sala


é isso que vejo todos os dias, entre cinco e cinco e meia da tarde.

é isso que me faz crer que nenhuma explosãozinha de merda tenha criado o universo.

é isso que me faz lembrar da mediocridade humana.

é isso que me dá vontade de não levantar da cama porque hoje vai ser outro péssimo dia, como foi ontem e será amanhã.


mas...


é isso que me faz acreditar que o amor está nas coisas mais simples.

é isso que me faz perceber num sorriso, o motivo da alegria de uma vida inteira.

é isso que me convence que, mesmo estando triste e sem esperança, ele, o sol, vai continuar lá: brilhando.

e é isso que me dá ânimo para acordar, pois sei que daqui a pouco, entre cinco e cinco meia da tarde, vou olhar pela janela e ver o sol.
.
.
.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

dois diálogos com kaspar hauser

o primeiro numa festa de apresentação com uma nobre e depois com o professor que o hospedou.


_prazer em conhecê-lo kaspar. estou ansiosa para que fale de sua prisão. que tal aquela cova?

_melhor que aqui fora!

(espanto e indignação de todos)

_mas você está bem aqui kaspar. só tem amigos...



_não acredito que o que me disse é verdade, kaspar. sua cama é o único lugar agradável no mundo? o resto do mundo é mau? não gosta mais do jardim, das groselhas maduras, das cebolinhas, de todo este verde?


_sim, mas devo dizer que minha aparição neste mundo foi uma queda bem dura.

.

.

o enigma de kaspar hauser


finalmente consegui assistir ao enigma de kaspar hauser. originalmente intitulado ‘cada um por si e deus contra todos’ (jeder für sich und gott gegen alle), é o décimo quinto filme de werner herzog. abro parênteses: herzog também dirigiu stroszek, cujo enredo teria influenciado no suicídio do vocalista do joy division, ian curtis, em 1980. aliás, participa do festival de cannes o filme control, uma biografia do cantor. fecho parênteses.

a história de kaspar (? – 1833) é real e baseada num mistério. resumindo: um garoto vive aprisionado sem nenhum tipo de comunicação. quando se torna jovem, é levado à cidade de nuremberg e começa o processo (sutil e violento) de 'inclusão' na sociedade. há muitas interpretações sobre a história. são mais de três mil livros, artigos e poemas. em são paulo, a companhia de teatro os satyros encenou ‘kaspar ou a triste história do pequeno rei do infinito arrancado de sua casca de nós’.

importante observar que o contexto histórico sugere um período que substituía os achismos, mitos e superstições por comprovações científicas. muitos abordam o viés psicológico. outros analisam o processo comunicacional, a língua, os signos, desdobramentos políticos, medicina, religião, semiótica, filosofia, antropologia...

mas para mim, que me senti um pouco kaspar, o que mais chama atenção é o fato de quererem te enquadrar, classificar e rotular a todo momento.

e o pior: muitas vezes somos nós quem buscamos este enquadramento. queremos ser incluídos na sociedade. ser aceitos em grupos. ser rotulados como cool ou hype ou cult ou in. bi, hetero, homo. de direita, de esquerda, ultra-esquerda, super-ultra-mega-master-uper-esquerda. agnóstico, crente, ateu, atoa. marxista, trotiskista, reformista, feminista.

quando no fundo, somos todos pseudos...


.

.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

sem comentários

milhares de pessoas têm reclamado que neste blogue não há espaço para comentários. não tenho problemas em ouvir opiniões, discutir assuntos, aceitar críticas e tal, mas este espaço, por enquanto, será assim. sempre preferi ouvir a falar. mas aqui eu falo e você escuta, capisce? no começo eu queria evitar comentários do tipo "oih mIgUXuuh, aMeiiih teu blOhg". depois, fiquei preocupado com as visitas. será que vão ler, será que vão gostar, será que vão comentar (?) (?) (?). tem uns blogueiros aí que dizem não estar preocupados com isso. duvido. por que criar um blogue, então? agora, se mesmo assim, depois desta postagem arrogante de minha parte, você ainda quer me dizer algo ou fazer um comentário, escreva para lucaspguedes@hotmail.com, que eu respondo, discuto, ouço, com muito prazer.


terça-feira, 22 de maio de 2007

ocupação na usp

já participei de diversas manifestações contra tudo que você possa imaginar. marchei contra os estados unidos, por jesus, contra a guerra no iraque, contra o aumento das passagens, pela paz, por melhoria na educação, por liberdade de imprensa, democratização da informação... com o tempo fui desanimando e, atualmente, não acredito em mudanças em nossa sociedade. não acredito que nada vá mudar, pelo menos para melhor. essa história de que se nos unirmos em prol de um futuro melhor não me convence. mesmo assim, penso que esta ocupação da reitoria na usp seja a mais coerente de todas que eu vi. basta dar uma olhada na pauta de reivindicações para perceber que os estudantes não estão de brincadeira. continuo achando que a maioria dos manifestantes está lá porque, entre outras coisas, tem grana e não precisa trabalhar. não concordo, por exemplo, com os grevistas que impedem os alunos que querem ter aula. mas isso não desqualifica nem deslegitima a luta dos companheiros. aqui, informações atualizadas direto da usp. aqui, a versão da folha online.








segunda-feira, 21 de maio de 2007

púcaro búlgaro


(...) o tema seguinte, levantado por pernacchio, prendia-se ao fato de os macacos, como descendentes do homem, não serem dotados do dom da palavra nem do raciocínio. (...) qualquer macaco, proclamou sem permitir apartes, é incomparavelmente mais sábio do que um santo tomás de aquino ou um descartes por exemplo, e, quanto a falar, basta ouvir o que estamos aqui falando para se chegar à conclusão de que defecamos tanto por cima, quanto por baixo, ou muito mais até.


extraído de o púcaro búlgaro, de campos de carvalho.








quinta-feira, 17 de maio de 2007

no manicômio

_hoje eu vou sair daqui! descobri que sou são pedro!
_como você diz uma coisa desta?! que heresia!
_eu tenho certeza!
_não pode ser! que blasfêmia!
_eu sou são pedro!
_que prepotência! quanto orgulho!
_eu sou são pedro.
_quem te disse isso?
_deus.
_eu???
_...

absinto, de degas (1876)


[ouvi essa historinha ontem em palestra sobre psicanálise, ministrada por um figurão da área, na qual trabalhei como fotógrafo. aprendi que a dependência química pode levar à loucura e causar alterações de comportamento, acompanhada por fala arrastada, nistagmo, movimentos oculares oscilatórios e rítmicos, incoordenação, marcha instável, estupor e coma. e lembrei de minha irmã psicóloga, que é a favor da luta anti-manicomial. e lembrei de um amigo narcisista e orgulhoso ao extremo, como nenhum outro]

quarta-feira, 16 de maio de 2007

nada além das horas


"podemos marcar um ponto no espaço, um momento no tempo, mas o espaço e o tempo escapam ambos ao nosso controle"



esta frase finaliza o documentário rien que les heures (1926), de alberto cavalcanti, que assisti ontem no segundo dia de aula do curso de história do documentário, oferecido pela eca/usp. é incrível como este cineasta-diretor-arquiteto-cenógrafo-roteirista dialoga com a questão do tempo, espaço e cidade. considerado o criador do gênero "city simphony", o brasileiro radicado na frança vai além deste rótulo pois, apesar de começar o filme mostrando que toda cidade é reconhecida pelos seus monumentos, mostra uma paris cheia de contrastes que qualquer cidade "cartão-postal" quer esconder. um exemplo é a cena em que um homem vai ao restaurante e, quando a câmera se aproxima de seu prato, vemos todo o processo que levou aquele pedaço de carne a estar ali, pronto para ser comido. ao mesmo tempo, percebe-se que o cara que matou o animal, para que ele fosse comido pelo homem no restaurante, não tem dinheiro para freqüentar um ambiente daqueles, nem comer aquele pedaço de boi. sabe-se que cavalcanti volta ao brasil na década de 1940 e depois de atritos com a vera cruz, onde realizou apenas três filmes, volta à frança e trabalha em mais de cinqüenta obras. rien que les heures não chegou a ser lançado, mas há uma cópia em película na cinemateca brasileira e no mam, em são paulo.


terça-feira, 15 de maio de 2007

continho sobre assassinato

escrevi o pequeno conto abaixo num exercício temático de escrita.

o que você quer saber? febém. dos quinze aos dezesseis. matei. por quê? não sei. porque... meu pai. quer dizer, primeiro minha mãe, mas essa ninguém sabe que fui eu. meu pai, eu mesmo enterrei. não, ele não bebia, não chegava em casa nervoso, nem batia em minha mãe. minha mãe. essa sim era o inferno. chegava em casa tarde todo dia à noite. viciada. em cheiro de homem. não do meu pai. esse era um santo. um tonto. nem tanto. passava as mãos em minhas pernas. eu via. sentia. fingia que dormia. não sou preto, nem pobre, nem rico. não sou estatística. li dostoievski, kafka, hemingway. rosa, machado, veríssimo. e clarice. clarice era o nome de minha mãe, que matei porque não fritou as batatas que pedi. batata-doce não se frita, ela disse. eu nem estava com fome, mas o cheiro de homem que ela carregava. ah, não agüentei, aquilo me enojava. mais que as mãos do meu pai nas minhas pernas. não sou crente. ah, sei lá. os caras que costumam cometer estes crimes sempre têm ligação com religião. eu não. não sou desandado, desviado. não quero dizer como os matei. fico triste, não durmo. meu pai, que enterrei no quintal, parou de ir ao meu quarto quando minha mãe morreu. não me denunciou. desarrumou a casa toda e disse que foi assalto. assassinato. no outro dia arrumou um homem. fiquei só. e só matei... não sei de mais nada. chorei e me entreguei.


segunda-feira, 14 de maio de 2007

eu não sou macaco não


por que a maioria dos ateus passa a vida tentando provar a si e aos outros a inexistência de deus? ora, se para eles, ele não existe, seria mais fácil ignorá-lo e não perder seu precioso tempo com uma bobagem. por que tanto incômodo, tanta crise? para que tanto filme criticando a fé? para que tanta poesia, tanto livro? será que eles não acreditam mesmo? será que acreditam que uma explosão deu origem o mundo? será que realmente crêem serem evolução de girinos e macacos? é preciso ter muita, mas muita fé para acreditar nisso.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

papa


o papa está aqui pertinho, a menos de cinco quilômetros de onde estou.
no entanto, minha única preocupação é com o trânsito. hoje tenho aula de teatro e a escola onde estudo é próxima à avenida pacaembu, que estará interditada. haverá um encontro com jovens que, certamente, não seguem os dogmas da igreja.
como chegarei lá? helicóptero? odeio faltar à aula.
droga!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

pedido

você acessou a secretária eletrônica de .*****,

para pedir dinheiro disque 1,

para pedir conselho disque 2,

para pedir que eu faça seu trabalho da faculdade disque 3,

para pedir um emprego disque 4,

para pedir que eu marque uma consulta disque 5,

para pedir carona disque 6,

para pedir um filme ou livro que você nunca mais vai devolver disque 7,

para não pedir nada, não disque, me acorde. é um sonho.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

o samba de mariana

ainda esta semana falo da virada cultural, que aconteceu em são paulo no último fim de semana. ainda não sei de muitas notícias pois não deu tempo de assistir tv, nem ler jornal, mas pelo pouco tempo que fiquei lá, percebi que o clima não estava nada bom.


mariana aydar


bom mesmo foi o show de mariana aydar (que não participou da virada) no auditório ibirapuera. sei pouca coisa da moça, que é filha de uma produtora/socialite e do músico mário manga. ouvi dizer que ela está sempre rodeada de pessoas famosas, estudou fora, freqüenta festas de gente que 'tá na moda', ilha de caras, etc. talvez por ter ouvido estas coisas, pensei que a garota era mais destas patricinhas que aproveita o sucesso dos pais para obter o seu.

então, foi com um pé atrás que entrei no auditório, que aliás, é impressionante. espaçoso, confortável, bonito, sofisticado e cheiroso. enquanto meu amigo eduardo, que já era fã de mariana há tempos, cantava todas as músicas, eu percebi que a patricinha canta muito bem. e canta samba da melhor qualidade.

com voz suave e sotaque baianopaulista, mostra que tem talento, técnica e personalidade. a insegurança que mostrou no começo da apresentação deu lugar a um show intimista com direito à brincadeiras com o pai (que tocou e pediu patrocínio para o novo disco dela), beijos para os avós (que estavam na terceira fila, duas atrás de mim) e declaração de amor ao namorado (que tocou bateria, dirigiu o show e retribuiu a declaração com uma música linda).

teve ainda participação de eduardo nazarian, bid, leci brandão e roberta sá. esta última não me convenceu. leci interpretou com muita emoção duas músicas, entre elas "zé do caroço", de 1978. bid, produtor do disco, tocou guitarra em uma música (foi também o dj da festa de 15 anos de mariana) e nazarian acompanhou no teclado dois afrosambas compostos por ele.

foi assim o primeiro 'show de peso' da moça, como ela mesma disse. e foi também meu primeiro, pois vou querer acompanhar melhor a carreira dessa nova estrela da música brasileira.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

angu de sangue, a peça

nem arroz, nem feijão, nem bife. em meu jantar de ontem foi servido angu. puro e seco. quer dizer, com um pouco de sangue. é, sangue. esse que corre nas veias, sabe? pra piorar, comi num porão frio e escuro, sentado numa tábua sem encosto.


assim foi a apresentação do coletivo angu de teatro no centro cultural são paulo. parte da segunda mostra latino-americana de teatro de grupo, a peça angu de sangue é baseada em contos do livro homônimo e de balé ralé, ambos do escritor marcelino freire. depois de um pequeno tumulto para conseguir ingresso – foi necessária uma segunda sessão – o grupo do recife veio dizer à são paulo que esta cidade não é a única em que predomina a solidão, violência, exclusão, persistência e dor. que as pessoas não conversam, não se ouvem, não se entendem. apenas falam. falam ao mesmo tempo, falam sozinhas, falam com todos e com ninguém.


logo no primeiro conto, "faz de conta que não foi. nada", já dá vontade de mandar os atores calarem suas bocas, tanta é a angústia, a indiferença e a rapidez com que narram a história de um menino de rua assassinado. é assim também no emocionante "socorrinho", contado e cantado por hermila guedes, no qual uma garota, representada por uma boneca, é estuprada. ou então em "muribeca", em que a catadora de lixo, que mora numa geladeira, descobre que o lixão de onde tira todo seu sustento vai ser desativado.


o grupo recifense conseguiu ilustrar de maneira simples e fiel os contos de marcelino, que parecem ter sido escritos para o teatro. mesmo os textos com apenas um personagem soam como diálogos, seja com a consciência ou com uma terceira pessoa inventada a fim de colocar nela a responsabilidade de um destino cruel. no espetáculo, os contos se transformam em cenas ágeis e densas, que nos conduzem rapidamente para o mundo daqueles personagens que, primeiro condenamos ou sentimos pena. depois, percebemos que são iguais a nós, frágeis e incompletos, numa sociedade em que todos falam, mas ninguém ouve ninguém.

encenação do conto "socorrinho", em angu de sangue

quinta-feira, 3 de maio de 2007

.hoje tem angu

elenco de angu de sangue, andré brasileiro, fábio caio, gheuza sena, hermila guedes e ivo barreto (fora de ordem)

termina domingo, dia 6, a segunda mostra latino-americana de teatro de grupo. hoje, dia 3, tem angu de sangue, às 19h, no centro cultural são paulo. o grupo que apresenta é o coletivo angu de teatro, do recife, dirigido por marcondes lima. são dez histórias que misturam vídeo e música com base no livro do marcelino freire (angu de sangue). o livro é bom. ótimo. a peça... veremos hoje! mais sobre a mostra aqui.


angu de sangue
centro cultural são paulo – rua vergueiro, 1000
3383-3400
grátis (chegar uma hora antes)