finalmente consegui assistir ao enigma de kaspar hauser. originalmente intitulado ‘cada um por si e deus contra todos’ (jeder für sich und gott gegen alle), é o décimo quinto filme de werner herzog. abro parênteses: herzog também dirigiu stroszek, cujo enredo teria influenciado no suicídio do vocalista do joy division, ian curtis, em 1980. aliás, participa do festival de cannes o filme control, uma biografia do cantor. fecho parênteses.
a história de kaspar (? – 1833) é real e baseada num mistério. resumindo: um garoto vive aprisionado sem nenhum tipo de comunicação. quando se torna jovem, é levado à cidade de nuremberg e começa o processo (sutil e violento) de 'inclusão' na sociedade. há muitas interpretações sobre a história. são mais de três mil livros, artigos e poemas. em são paulo, a companhia de teatro os satyros encenou ‘kaspar ou a triste história do pequeno rei do infinito arrancado de sua casca de nós’.
importante observar que o contexto histórico sugere um período que substituía os achismos, mitos e superstições por comprovações científicas. muitos abordam o viés psicológico. outros analisam o processo comunicacional, a língua, os signos, desdobramentos políticos, medicina, religião, semiótica, filosofia, antropologia...
mas para mim, que me senti um pouco kaspar, o que mais chama atenção é o fato de quererem te enquadrar, classificar e rotular a todo momento.
e o pior: muitas vezes somos nós quem buscamos este enquadramento. queremos ser incluídos na sociedade. ser aceitos em grupos. ser rotulados como cool ou hype ou cult ou in. bi, hetero, homo. de direita, de esquerda, ultra-esquerda, super-ultra-mega-master-uper-esquerda. agnóstico, crente, ateu, atoa. marxista, trotiskista, reformista, feminista.
quando no fundo, somos todos pseudos...
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