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terça-feira, 15 de maio de 2007

continho sobre assassinato

escrevi o pequeno conto abaixo num exercício temático de escrita.

o que você quer saber? febém. dos quinze aos dezesseis. matei. por quê? não sei. porque... meu pai. quer dizer, primeiro minha mãe, mas essa ninguém sabe que fui eu. meu pai, eu mesmo enterrei. não, ele não bebia, não chegava em casa nervoso, nem batia em minha mãe. minha mãe. essa sim era o inferno. chegava em casa tarde todo dia à noite. viciada. em cheiro de homem. não do meu pai. esse era um santo. um tonto. nem tanto. passava as mãos em minhas pernas. eu via. sentia. fingia que dormia. não sou preto, nem pobre, nem rico. não sou estatística. li dostoievski, kafka, hemingway. rosa, machado, veríssimo. e clarice. clarice era o nome de minha mãe, que matei porque não fritou as batatas que pedi. batata-doce não se frita, ela disse. eu nem estava com fome, mas o cheiro de homem que ela carregava. ah, não agüentei, aquilo me enojava. mais que as mãos do meu pai nas minhas pernas. não sou crente. ah, sei lá. os caras que costumam cometer estes crimes sempre têm ligação com religião. eu não. não sou desandado, desviado. não quero dizer como os matei. fico triste, não durmo. meu pai, que enterrei no quintal, parou de ir ao meu quarto quando minha mãe morreu. não me denunciou. desarrumou a casa toda e disse que foi assalto. assassinato. no outro dia arrumou um homem. fiquei só. e só matei... não sei de mais nada. chorei e me entreguei.