o título remete à uma das frases que estudantes e trabalhadores franceses pregavam em maio de 1968, num episódio que incluiu greves, manifestações e paralelepípedos voadores. o cheiro era de gás lacrimogêneo e o som, de bombas. mas não foi só isso. havia ali – e falta hoje, principalmente no brasil – pessoas que realmente acreditavam e não apenas discursavam, mas agiam de acordo com o que pensavam. eles viviam aquilo que pichavam nos muros.
quase na mesma época, mesmo sob a repressão da ditadura militar, nascia no brasil o tropicalismo, movimento artístico e comportamental que propagava, entre outras coisas, a liberdade. caetano veloso, um dos principais representantes, compôs e apresentou num festival - sob vaias, tomates e ovos, uma canção homônima à frase anarquista dos franceses e ao filme de durán.
as semelhanças entre maio de 68 e a música de caetano são explícitas, enquanto no filme páram no título. não vi nada de revolucionário ou transgressor. o cartaz do filme também engana. a foto traz os três personagens juntos com caras de êxtase e à minha primeira vista pensei se tratar do efeito de drogas ou de sexo. resposta errada. é a última cena do filme, uma das mais marcantes, em que precisam tomar uma séria decisão. talvez o grande lance do filme seja o conflito interno de cada personagem. apesar de não lutarem pela liberdade dos oprimidos, nem por direitos iguais, eles pensam viver esta liberdade até se depararem com uma situação que vem de encontro à boa vida de universitário bancado pelos pais.
em meio a tudo isso, surge a atração da garota pelo melhor amigo de seu namorado. é interessante como o tema é tratado, sem parecer clichê, sem cair no ridículo, nem parecer triângulo amoroso de novela, em que há um cara bonzinho que vai ser traído pela namorada ingênua, com o amigo mais bonito e sedutor.