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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

madalena

#1

nunca havia entrado naquele beco antes. talvez pelo cheiro de maconha, mijo, esgoto e arruda. ou talvez pela simples ausência de motivo que justificasse uma visita. mas queria entrar. e nem o portão semi-aberto tal qual o filme de hitchcock iria impedi-la. entrou.

a luz da lua fazia sombra nas paredes grafitadas. não sabia ao certo o que a esperava, mas via dragões, flores, olhos, nuvens. nada fazia sentido e o medo do escuro era sua única companhia.

andava rente à parede, entorpecida por uma droga incolor. incolor não, invisível. invisível não, imaginária. era como se quisesse estar drogada para ser igual aos outros fantasmas que ali estavam.

os desenhos todos formavam uma mistura que não fazia bem àquela garota que só queria se esconder. mas como sumir em meio aos dragões grafitados nas paredes de um beco? como desaparecer entre flores e olhos e nuvens. e a luz da lua que insistia em acompanhá-la como uma estrela de belém?

andou mais um pouco e pela primeira vez teve dúvidas. se entrasse a direita sairia numa rua que não conhecia, mas que ao certo a levaria para fora daquele refúgio. seguiu reto e seus passos eram como os de quem pisa em vidros. só parou quando ouviu uma voz que não era de homem nem de mulher.

não assustou quando percebeu que quem falara com ela era o dragão. tão pouco teve medo da criatura que saíra da parede se espreguiçando como quem diz estou cansado de ficar imóvel enquanto as pessoas passam e me observam com cara de ó que lindo ou ó que feio ou ó que estranho.

aceitou o convite do dragão e saiu para um passeio que mudaria sua vida pra sempre.

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Um comentário:

Lai Paiva disse...

Muito, muito bom. Adorei ir lendo e me imaginando no mesmo beco, como observadora... Bj