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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

voo noturno

- 5 de janeiro, aeroporto de guarulhos, mc donalds, 20h13

um dia difícil, definitivamente difícil. a noite anterior não havia sido das melhores e anterior então, melhor nem comentar. foram vários dias de reflexão sobre um ano que acabou de acabar e de repente, num só dia, um balde de água gelada a cada minuto na minha cabeça. nada saiu como eu pensei que sairia. uma palavra: decepção.

la vida es una sucesión de equívocos que nos conducen a la verdad final: la única verdad. (roberto bolaño, nocturno de chile, pág 13)

- 5 de janeiro, céu de são paulo, 11 mil metros de altura em direção ao sul, 22h10

pela primeira vez não fiquei com medo de turbulência. obviamente não desejei que o avião caísse, mas não temi uma possível queda. nenhuma turbulência aérea vai ser maior do que as turbulências que ocorrem dentro de mim.

meu corpo está quente, mas eu sinto frio. um rapaz gordo e bonito ao meu lado cai de sono no meu ombro enquanto segura a mão direita de sua esposa loira e bonita entre as pernas.

- 5 de janeiro, aeroporto de porto alegre, 23h45

a velocidade de 920 km por hora anunciada pelo comandante samir acendeu em mim uma vontade de voar. eu olho a comissária, ela olha pro cara da minha frente, ele dorme. o gordo acorda e olha para o que estou escrevendo. eu cubro as palavras com uma das mãos como quem impede o colega de colar na prova de física da quinta série E.

o casal desce em porto alegre e diz tchau.

meus ouvidos doem, minha cabeça doi, meu coração doi. e eu decido voltar para são paulo. a certeza de que eu deveria ter adiado esta viagem está cada vez mais clara e eu estou completamente surdo. em porto alegre, 23 graus.

- 6 de janeiro, céu do uruguai, 12 mil metros de altura, 0h25

um mineiro do meu outro lado puxa assunto, conversamos um pouco e sua esposa o interrompe por algum motivo. poxa, perdi meu amigo de voo que estava prestes a me contar como tinha sido sua lua de mel em santiago. antes, insiste para que eu vá com eles para o centro em vez de esperar até amanhacer, como eu disse que ia fazer com intuito de economizar com táxi (é o que estou fazendo agora, esperando amanhecer para pegar um ônibus de 1 dollar).

educadamente, eu nego o convite e eles seguem viagem lendo a revista Casa. (mais tarde a gente se encontra no hall do aeroporto em montevidéu, ele diz que observou que eu fazia um relato no avião e pergunta: por acaso você escreveu no seu diário que um gordinho mineiro ficou te enchendo o saco no avião? respondo que sim. todos riem)

voando sob o uruguai, sinto uma estranha sensação de felicidade. não sei bem o que é, mas sinto que será uma ótima viagem. eu falei que antes do avião pousar, ele dá uma voltinha pela orla? pois é, ele dá.

- 6 de janeiro, montevidéu, 1h28

não sei o que vai acontecer aqui nesta cidade, mas deixei toda mágoa se dissipar no céu turbulento e vim ser feliz. enquanto isso, espero amanhecer deitado num sofá do aeroporto.
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4 comentários:

Anônimo disse...

boa viagem.

Mariana disse...

Adorei o relato! Quero saber os proximos capítulos... hehe

Talita Guedes Bittioli disse...

Agora entendi pq disse que estava esperando amanhecer pra pegar um ônibus!!! rsrs...

Cuide-se e divirta-se. Enquanto estiver aí, viva aí. Quando voltar pra SP pense em SP.

Ana disse...

feliz ano novo!