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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ney Matogrosso, Beijo Bandido



Ney Matogrosso é conhecido por sua extravagância e coragem. Juntam-se aí um pouco de transgressão e rebeldia, misturadas com poesia e um toque de erotismo. Acrescenta-se drama e forte presença de palco. Na verdade esse era o Ney do meu imaginário.

Bem menos exuberante do que os outros shows, Beijo Bandido (assistido no dia 7 de novembro, no Sesc Pinheiros) mais parece uma história de amor contida, contada e cantada em capítulos. Capítulos tristes, diga-se de passagem, a começar pela primeira canção...

Hoje, alguém pôs a rodar
Um disco de Gardel
No apartamento junto ao meu
Que tristeza me deu

(...)

Parece me dizer
Que a noite envelheceu
Que é hora de lembrar
E de chorar
[em Tango para Teresa]

No decorrer do show, Ney, que veste um terno cinza (talvez) e uma camisa branca aberta no peito parece interpretar uma vida inteira de sofrimento de alguém que foi ou está sendo desprezado por alguém que ama....

Vivo só sem você
Que não posso esquecer
Um momento sequer
Vivo pobre de amor
À espera de alguém
E esse alguém não me quer
[em: de cigarro em cigarro]

mas que, ainda assim, esse alguém (o que despreza) é amado.

O teu corpo é luz, sedução,
Poema divino cheio de esplendor.
Teu sorriso prende, inebria e entontece.
És fascinação, amor.
[em: Fascinação]


Mesmo sem ter tal amor, submete-se a qualquer coisa para voltar...

Se o problema é pedir, implorar
Vem aqui, fica aqui
Pisa aqui neste meu coração
Que é só teu, todinho teu, o escurraça
E faz dele de gato e sapato
E o inferniza e o ameaça
[em: Doce de Coco]

Mas, quando o show está perto do fim, percebemos que o ser desprezado parece estar ciente de sua situação e, mesmo se dirigindo a um outro ser, os versos abaixo caem como um recado a sim mesmo:

Saia desta vida de migalhas
Desses homens que te tratam
Como um vento que passou
[em: Mulher sem Razão]

Bom, claro que isso é apenas uma análise bem rasa do que é este disco fenomenal do Ney. Foi o primeiro show dele que vi e saí com a sensação de tempo perdido. Mesmo tendo ouvido dezenas de outros de seus discos, sobretudo dos Secos e Molhados, só ali naquele palco, ao vivo, é que pude perceber o quanto Ney é essencial pra nossa música.

Enfim, abaixo um trecho deste show, que com certeza entra pra lista dos melhores e intocáveis. Olha, acho que dificilmente verei coisa igual, portanto deixo este show do Ney ao lado do de Caetano Veloso, acima de todos os outros e, portanto, sem comparação....
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6 comentários:

Lucas Marreiros disse...

Eu adorei que tu colocou as letras das músicas pq, bem superficialmente claro, deu pra assisti o show por tabela e olha a única música do Ney que eu gosto é "Por debaixo dos panos" que eu acho um tanto engraçada. Acho que não gostava mais por pura falta de conhecimento mesmo, mas as letras despertaram em mim a vontade de ouvir esse cd, portanto vou baixa-lo agora. (rs)

Mariana Campos disse...

Q lindoooo, deve ter sido o máximo!
Pena q perdi...snif!

Eduardo Araújo disse...

Cara, se eu te disser que inclassificáveis fez parte da trilha do meu pé na bunda, vc acredita. ta aqui no mp3 da academia. um dia te mostro, pra provar que amor tem cura.

Elô Rangel disse...

Ah! Queria tanto ter visto, mas depois daquele dia em q nos falamos, fui ver como fazia para comprar e já não tinha mais ingressos!!! Droga! Mil vezes droga!!!

Rart og Grotesk disse...

passando para conhecer o blog, muito legal! se quiser, acesse meu blog de arte obscura http://artegrotesca.blogspot.com

Darlan disse...

Ah, gostei bastante do texto. Ver Ney ao vivo está nos meus planos de vida. Acvho que você conseguiu passar exatamente o clima de Beijo Bandido, é mesmo um álbum de detalhes, sem explosões. Ao que me parece, bem diferente do anterior, Iclassificáveis.

Curti o blog, abraço!