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segunda-feira, 22 de março de 2010

sobre a céu




[fotos tiradas por mim, no RecBeat, em Recife, 15 de fevereiro de 2010]

É verdade, não gostei quando ouvi Céu pela primeira vez. Achei a voz fraca, sem personalidade, sem expressão. A conheci no mesmo momento em que surgiam várias cantoras, aquelas chamadas pela mídia como revelações femininas da música popular brasileira, ao lado de Roberta Sá, Mariana Aydar, Fabiana Cozza, Marina de la Riva, Ana Cañas e outras.

Obviamente, cada uma tem uma história diferente de início de carreira, algumas delas com um histórico muito anterior à aparição em casas de show e música veiculada em rádio, mas no caso específico da Céu, que inclusive teve músicas em novelas e cantou na abertura dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, o 'problema' era outro. Afinal, eu pensava, Céu era apenas uma filhinha de papais ricos (ela é filha do maestro Edgar Poças e da artista plástica Carolina Whitaker) que cantava bem e deu sorte fora do Brasil.

Puro preconceito.

Então fui ouvir atentamente seu primeiro disco e me apaixonei. Apesar de algumas canções serem reggae demais pro meu gosto, a moça foi me conquistando. Depois veio seu EP (Cangote), lançado em 2009 e foi amor à primeira vista. O lançamento trouxe 4 músicas, talvez as melhores do que viria a ser seu segundo disco, Vagarosa, entre elas, Bubuia, com participação de Anelis Assumpção e Talma de Freitas, que virou o grande hit do disco.

Mas sou daqueles que acreditam que o músico, pra ser 'completo', tem que mandar muito bem no palco, além do estúdio. E no caso da Céu, pude vê-la em dois momentos bem diferentes no último mês. Primeiro lá em Recife no tradicional RecBeat, festival que acontece há 15 anos em meio ao carnaval da cidade, por onde já passaram Otto, Mundo Livre S/A, Pinduca, Fellini, Mudhoney, Zeca Baleiro, Lenine, entre outros. Ao ar livre e de graça, foi um show tímido por parte do público jovem, mas muito quente na performance de Céu. À vontade, como sempre parece estar, cantou muitas músicas do segundo disco (incluindo a participação especial de Anelis em Bubuia) e alguns sucessos do antigo, como Malemolência e Lenda, além de um cover sofisticadíssimo de Ray Charles (Two to Tango).

Tal sofisticação pareceu mais bem aceita no outro show que fui, dia 20 de março, no SESC Santo André. Cantando para um público mais heterogênio, com famílias inteiras na plateia de cadeiras brancas e fãs que sabiam de cor não apenas os hits de novela, Céu repetiu o repertório da outra vez que a vi, acrescentando apenas Concrete Jungle, de Bob Marley, no bis.

Com a experiência destes dois shows da Céu em menos de 30 dias, só tenho a confirmar que ela é uma ótima artista, não apenas intérprete, mas também compositora que agrada os fãs, com letras que falam da natureza, do tempo, de amor, sem cair na pieguice e com um quê de 'viagem', como Ponteiro, em que fala com um relógio (E repousou olhos num inquieto ponteiro, que ignorou aquele sonho, que se perdeu na tal promessa de um novo dia) ou Espaçonave (Pode mandar embrulhar que eu quero te levar pra viagem) ou ainda Nascente (Com diamantes de gelo em cada fio de cabelo, das pedras nasce um novelo que, aos poucos, se movimenta).

Com apenas dois discos, algumas indicações para prêmios importantes como o Grammy e Grammy Latino e sendo a segunda mulher brasileira (depois de Astrud Gilberto, em 1963) a ocupar um lugar de destaque na Billboard (no disco de estreia), Céu vai conquistando cada vez mais espaço na tão ampla (e contraditória) definição do que é a música popular brasileira.
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6 comentários:

Geraldo Brito (Dado) disse...

Gosto de "Malemolência". Linda música e interpetação!

Marcela Prado disse...

na minha singela opiniao,a terceira foto é a melhor

Eduardo Araújo disse...

Bonito texto.

Robson Schneider disse...

Ainda não conheço essa cantora. Já a Roberta Sá virei fanzão.O cd sambas e bossas é perfeito. Valeu a dica vou pequisar sobre a Céu.
Grande abraço Lucas

Ana... disse...

Ceu...vixi gosto mais que rapadura!
A ponto de furar o disco de tanto ouvir. e o texto ficou uma belezuraaaa.

Cleyton Cabral disse...

Foiuma delícia esse show. Digo o do recbeat =D