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quarta-feira, 20 de março de 2013

pra quem você escreve

quando os blogs eram legais e eu gostava de ler, passava horas em frente ao computador. e eu lia coisas realmente muito boas. não falo apenas de uma boa história, mas de textos bons. tinha aquela garota do interior que veio pra sp e desabafava sobre as aventuras na cidade grande, o menino gay que tentava, por meio da internet, entender suas crises em relação à sexualidade, o outro que postava seus desenhos, fazendo de seu site uma exposição virtual, entre outros blogs, maravilhosamente bons.

com a tal da inclusão digital, das facilidades de se criar um site e da proliferação extraordinárias das redes sociais, todo mundo passou a ter um blog e, consequentemente, a escrever bobagens. claro que haviam bobagens antes, mas os blogs bons ficaram esparramados entre os ruins. twitter, facebook, tudo isso também ajudou a iniciar o declínio da expressão literária na internet. hoje em dia até o governo te banca se você quiser ter um blog. as empresas então, nem se fala.

e se hoje eu uso um discurso disfarçadamente crítico em relação aos blogs, não quero dizer que os odeio por completo, tampouco dissemino ódio pelas redes sociais. mas acho que o texto - enquanto texto mesmo - mudou muito em muito pouco tempo. as peças de teatro, os romances, os sms's, tudo ficou meio superficial. eu mesmo às vezes penso que deixei de escrever bem. não que eu fosse um bom escritor, mas mediocridade nunca foi um traço da minha escrita.

na área de comunicação, já escrevi para revistas, sites de compra coletiva, hospitais, escolas, centros culturais e empresas, mas o foco era sempre internet. e o que eu ouvia das pessoas que me contratavam era sempre a mesma coisa. eles queriam aumentar o público, independentemente do conteúdo. o objetivo sempre foi vender. a imagem, os produtos, os conceitos.

quando comecei a trabalhar em casa, pude escolher melhor o que vender e a quem atender. três anos de muito aprendizado até que bateu aquela saudade de trabalhar em grupo, parar de falar sozinho, discutir as ideias. há pouco tempo voltei ao mundo corporativo. apesar de estar numa empresa cultural, que amo, admiro e sempre quis fazer parte do "time", não posso deixar de admitir que é uma empresa e portanto tem as características de empresa. e a que mais me incomoda é a de que o objetivo final é sempre o lucro.

mas o que mais me anima é o fato de poder trabalhar com cultura e com texto. e melhor ainda, o que mais me fascina é poder usar meu texto para atingir milhares de pessoas que nem me conhecem, nem imaginam o que eu faço. e isso me dá uma ansiedade enorme, pois se eu falo (escrevo) uma bobagem no blog é uma coisa, 20 pessoas vão ler e ignorar. mas escrever para 200 mil por mês é de uma responsabilidade imensa.

entretanto, a questão aqui não é apenas a quantidade de pessoas que leem, mas o que elas leem. por isso acredito que escrever em uma época em que tudo beira a superficialidade é uma tarefa quase impossível. a maioria das pessoas lê pouco e quando leem, querer fluidez, rapidez, pá pum. e se agradar 20 pessoas já é difícil, imagine 200, 300, 500 mil, 1 milhão...

e nos blogs ainda tem uma série de outras questões. e sobre essas questões escrevo mais tarde.

2 comentários:

Ana disse...

Adorei! E, sabe, tava pensando nisso outro dia mesmo...

Talita Guedes Bittioli - Psicóloga disse...

olha, eu vou confessar duas coisas: 1. eu tb acho que vc já escreveu melhor, não se ofenda :/
2. ainda não terminei meu livro extamente por causa dessa superficialidade de merda.