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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

sobre religião (ou porque fui expulso da igreja)

aproveitando a vibe de postagens diárias e o ânimo pra escrever (que vai passar logo, acreditem), vamos ao tema de hoje: religião. sem me aprofundar muito no assunto para não envolver pessoas sem seu consentimento, vamos à uma experiência, no caso a minha.

quando pequeno frequentava uma igreja pentecostal com minha avó paterna, linda e maravilhosa. já minha avó materna era católica e meus pais não eram nada. tanto que nem fui batizado quando neném, graças a deus. aos oito, comecei a frequentar a igreja batista, com uma tia. eu adorava os encontros, os estudos, o ambiente, tudo. algum tempo depois meus pais também começaram a frequentar e se converteram. meu batismo foi aos catorze anos (uma das principais crenças dos batistas é essa, a de que o batismo tem de ser consciente e simboliza a morte para o mundo e o renascimento em cristo).

nem tudo era uma maravilha, mas eu era de fato um crente. estudava a bíblia, saía com os amigos da igreja, viajava aos acampamentos e participava dos ministérios. mas sempre fui um pentelho. não no sentido de bagunça, mas sempre queria ir além do que me era dito pelos pastores e líderes. tentava entender tudo, pois nunca fui besta e nunca deixei que me enganassem. mas tem algo estranho quando se fala de fé. não tem explicação, ou você tem ou você não tem.

fato é que sempre busquei coisas novas e muitas vezes provoquei a igreja, que parecia estar mais preocupada com seu próprio bem estar do que com as pessoas de fora (ou pessoas do mundo, como alguns membros diziam. promovi, com a ajuda de amigos também revoltados, várias ações para atingir os de fora. e na maioria das vezes fui muito livre.

como o papo de hoje não é sobre as descobertas sexuais, não falarei disso, mas esta questão não era importante pra mim na época que estive na igreja, dos oito aos vinte e poucos anos. o que me deixava mais chateado era a falta de respostas e a facilidade com que algumas pessoas apenas aceitavam tudo, sem questionar, sob a premissa de que os mistérios de deus não são para ser entendidos. pelo menos não na terra.

muito me admirava a vida de alguns cristãos, sobretudo os pioneiros do protestantismo, como lutero, calvino, john knox, john wesley, cujos nomes muitos cristãos de hoje nunca ouviram falar. mas enfim, eu sentia falta daquele cristianismo.

como disse que não ia expor ninguém, não estou a fim de citar experiências vividas na igreja (apesar de eu ter sido BEM exposto). vi a igreja sendo dividida por interesses particulares, traição, adultério (inclusive de pastores de várias igrejas), mentira e hipocrisia, muita hipocrisia (eu, por exemplo, passei algum tempo sendo hipócrita). mas não há como eu falar dessa história sem contar o que aconteceu comigo.

por conta da minha decepção pessoal com a igreja e com o cristianismo de forma geral, comecei a me afastar aos poucos. confesso que tentei ao máximo permanecer naquele ambiente, mas não deu. parei de frequentar os cultos e a cada dia mais tinha certeza de que aquilo não era pra mim.

eis que depois de alguns anos (dois ou três) sem ir aos cultos, tendo mudado de cidade inclusive, recebi a ligação de um dos pastores. simpático e gentil, como sempre foi (aliás, uma pessoa ótima de quem eu gosto muito ainda hoje) disse que iria me tirar do rol de membros da igreja por ausência. um papo bom, sem drama. aceitei e desligamos.

dias depois, recebo outra ligação. desta vez era um amigo dizendo que estava numa reunião com os líderes e que meu nome tinha sido citado, conforme o pastor havia me dito que ia acontecer. mas agora o motivo era outro. alguém tinha ficado sabendo, não sei como, que eu era gay. como este assunto já estava bem resolvido pra mim, não me preocupei em avisar o povo da igreja. minha família sabia e me aceitava, o que me deixava bem confortável perante a crise fortíssima que tive durante muito tempo.

e como o gay não é aceito na igreja (aliás, é aceito, desde que mude) eu não acho um erro que eles te afastem. cada grupo aceita quem achar de direito, conforme suas crenças e costumes. o que me deixou triste foi o fato de um pastor ter me ligado por um motivo e depois a situação ter mudado completamente.

agora eu era um gay e precisava ser excluído da igreja por se gay e não por ausência. até hoje não quis saber dos detalhes, mas o que chegou a mim é que alguém "descobriu" vendo fotos no facebook, olha que legal! e de um momento pra outro, eu estava sendo discutido entre os líderes da igreja. tempo depois, como é de costume, meu nome foi levado publicamente a todos os membros da igreja e meu "problema" foi exposto. e igreja votou minha exclusão.

que fico claro que não sinto mágoa, nem acho que a igreja errou em me excluir. afinal você só faz parte de um grupo se tem algo em comum com as pessoas que fazem parte dele. e eu não tinha a muito tempo.

às vezes eu fico imaginando como foi este dia. o que pensaram, quem votou a favor da minha expulsão (todos, imagino). fico pensando nos gays que ainda estão lá (porque é claro que tem gay na igreja que eu sei BEM). fico pensando no pastor que tempo depois também saiu da igreja porque tinha um caso com a secretária. fico lembrando das músicas maravilhosas de amor, dos abraços de carinho, da ceia compartilhada.

hoje fico bem feliz por não pertencer mais a este meio. ainda tenho minha fé, ainda tenho meu conhecimento e mantenho firme minha espiritualidade. das amizades, apenas duas ou três ainda permanecem. e hoje, mato as saudades quando ouço os hinos na igreja batista que fica colada ao meu prédio.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lucas, nossa história é bem parecida!

Depois de anos "chateado" com D-s por causa de homens infelizes como este citado, estou sendo curado simplesmente pela palavra, voltei as escrituras e to estudando com judeus, no contexto original, tem me feito muito bem. (se interessar..http://www.youtube.com/watch?v=VrCKV5KDFe4)

Como fica evidente, D-s é bom, o homem não

D-s cuida dos seus, você é dEle, eu também, Ele cuida da gente com Amor

.lucas guedes disse...

eu sei queridão. só não vou ser curado porque não estou doente. saí da igreja e isso não é um drama. como eu disse, se você está fora dos padrões de algum determinado grupo, vc está fora. mas há muitos que estão no padrão, por isso continuam e acho isso o máximo. no meu caso nunca fiquei chateado com deus, nem com os homens da igreja. eles são treinados pra agirem assim e acreditam nisso.

na verdade até admiro bastante a fé que eles têm! e que sejam felizes!

.lucas guedes disse...

não fiquei chateado com o que fizeram, mas com a forma como fizeram, às escondidas, em público... mas eles estão apenas seguindo os ensinamentos, por isso não há mágoa...