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quarta-feira, 11 de junho de 2008

a tia da lanchonete e meus 1500 pães de queijo

nos últimos cinco anos devo der ganho mais de mil e quinhentos pães de queijo. explico: quando comecei trabalhar nesta empresa, tomava café numa lanchonete aqui ao lado. não é o fran´s café, mas o café da fran. e como a fran tinha problema na coluna, eu a ajudava a subir as portas, aquelas pesadas de ferro, sabe? como pagamento pela minha contribuição, ela me dava um pão de queijo todo dia.

'não conte pra ninguém', ela me alertava. 'o pessoal daqui é muito folgado'.

e eu não contava mesmo. às vezes eu tinha até vergonha de passar lá, porque dava a impressão que eu só a ajudava em troca dos pães. mas ela sabia que não.

de uns tempos pra cá, meu horário mudou e quando eu passava em frente, a porta já estava aberta. mesmo assim, meu pão de queijo estava naquele negócio de vidro, como é mesmo o nome, estufa?

e ela avisava: 'corre que hoje você tá atrasado'. ou então: 'chegou cedo, caiu da cama?' e ainda: 'se prepara, porque seu chefe passou agorinha mesmo por aqui e tá com cara feia'.

era lá também que eu sabia quem tava namorando, quem tinha sido demitido, contratado, morrido, separado, tudo. e não precisava nem perguntar.


ela sempre cobrava a revista interna da empresa, que eu edito. 'e aí, essa revista agora é semestral, anual? eu preciso saber tudo o que acontece, lucas, agiliza lá meu', dizia, sem negar as raízes napolitanas.


agora não tem mais fran. o café, provavelmente vai ser vendido, já fiquei sabendo. tudo bem. algumas coisas precisam mesmo acabar para começarem outras.


e a vida é isso, não é?


nascer e morrer.


e o que você tem feito neste intervalo?
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6 comentários:

Pí Ême. disse...

Vim parar aqui por acaso. Gostei tanto desse texto. Tão delicado, tão doce. SIMPLES!

beijo

Unknown disse...

pergunta difícil essa..mas tento abrir meus ouvidos e escutar meu Pai..plantar, para colher o depois de morrer...q na verdade..a morte deveria ser motivo de alegria, somos promovidos,mas humanos imperfeitos q sentem saudade =(
bjooo Luuuu

Anônimo disse...

Belo texto, triste, tristíssimo.


bço


Edu

Rebiscoito disse...

Ela devia ser muito fofa mesmo.
Adoro ficar amiga de pessoas assim como tias da lanchonete, seguranças, cobradores do ônibus...Eles são sempre muito queridos quando os tratamos bem. Não sei como pode ter gente que os tratam como alguém inferior a elas...

Que ela eteja bem no céu =]
beijinhos.

paulete miletta. disse...

gostei desse. voltei prá reler. beleza triste. bitoca!

Anônimo disse...

Texto simples, mas gostoso de ler! Continue assim... Vou voltar mais vezes...

Abração!

André Monteiro
www.upasinodalrio.blogspot.com