abaixo, o primeiro trecho de east cocker, que faz parte dos quatro quartetos de t. s. eliot.
eliot é o cara.
apesar de ter nascido nos estados unidos, é britânico e sua poesia é o que há de melhor na literatura inglesa. (ok, não conheço tudo da poesia inglesa, nem européia, mesmo assim ele continua sendo o cara)
mais abaixo, o poema em inglês que é tão quase mais bonito que em português...
mais abaixo ainda, em espanhol (sim. há diferenças de idioma pra idioma e isto é o máximo, quando se trata de poesia...)
...
...
em meu princípio está meu fim. em sucessão
as casas se levantam e tombam, desmoronam, são ampliadas,
removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar
irrompe um campo aberto, uma usina, um atalho.
velhas pedras para novas construções, velhos lenhos
para novas chamas,
velhas chamas em cinzas convertidas, e cinzas sobre
a terra semeadas,
terra agora feita carne, pele e fezes,
ossos de homens e bestas, trigais e folhas.
as casas vivem e morrem: há um tempo para
construir
e um tempo para viver e conceber
e um tempo para o vento estilhaçar as trêmulas
vidraças
e sacudir o lambril onde vagueia o rato silvestre
e sacudir as tapeçarias em farrapos tecidas com a
silente legenda
em meu princípio está meu fim.
agora a luz declina
sobre o campo aberto, abandonando a recôndita
vereda cerrada pelos ramos, sombra na tarde,
ali, onde te encolher junto ao barranco enquanto
passa um caminhão, e a recôndita vereda insiste
rumo à aldeia, ao aquecimento elétrico
hipnotizada. na tépida neblina, a luz abafada
é absorvida, irrefratada, pela rocha grisalha.
as dálias dormem no silêncio vazio.
aguarda a coruja prematura.
.
***
.
in my beginning is my end. in succession
houses rise and fall, crumble, are extended,
are removed, destroyed, restored, or in their place
is an open field, or a factory, or a by-pass.
old stone to new building, old timber to new fires,
old fires to ashes, and ashes to the earth
which is already flesh, fur and faeces,
bone of man and beast, cornstalk and leaf.
houses live and die: there is a time for building
and a time for living and for generation
and a time for the wind to break the loosened pane
and to shake the wainscot where the field-mouse
trots and to shake the tattered arras woven with a silent motto.
in my beginning is my end.
now the light falls
across the open field, leaving the deep lane
shuttered with branches, dark in the afternoon,
where you lean against a bank while a van passes,
and the deep lane insists on the direction
into the village, in the electric heat
hypnotised. In a warm haze the sultry light
is absorbed, not refracted, by grey stone.
the dahlias sleep in the empty silence.
wait for the early owl.
.
***
.
en mi comienzo está mi fin, en sucesión
se levantan y caen casas, se desmoronan, se extienden,
se las retira, se las destruye, se las restaura,
o en su lugar hay un campo abierto, o una fábrica, o una circunvalación.
vieja piedra para edificio nuevo, vieja madera para hogueras nuevas,
viejas hogueras para cenizas, y cenizas para la tierra, que ya es carne,
piel y heces, hueso de hombre y animal, tallo y hoja de maíz.
las casas viven y mueren, hay un tiempo para construir
y un tiempo para vivir y engendrar,
y un tiempo para que el viento rompa el cristal desprendido
y agite las tablas del suelo donde trota el ratón de campo,
y agite el tapiz hecho jirones con un lema silencioso.
en mi comienzo está mi fin.
ahora cae la luz a través del campo abierto,
dejando la hundida vereda tapada con ramas, oscura en la tarde,
donde uno se apoya contra un lado cuando pasa un carro,
y la vereda hundida insiste en la dirección hacia la aldea,
hipnotizada en el calor eléctrico.
en cálida neblina, la sofocante luz es absorbida, no refractada,
por piedra gris, las dalias duermen en el silencio vacío,
esperad el búho tempranero.
.
.
.