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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

a revolta da lâmpada

(manifesto escrito coletivamente por A revolta da lâmpada

A REVOLTA DA LÂMPADA
pela libertação de todos os corpos

#revoltadalampada #corpolivre

16.11.14 | Av. Paulista, 777 (esquina com Brgadeiro) | 16h 

+++ CONTRIBUA, PRECISAMOS DE 2 CONTO: http://bit.ly/doacoesRdL
(com prestação pública de contas, tá? ♥)

14 de novembro de 2010. um grupo de pessoas é agredido com lâmpadas fluorescentes (!) por expressarem livremente suas identidades de gênero em seus corpos. corpos que carregam indivíduos LGBT e também heterossexuais, mas que foram percebidos e categorizados pelos agressores como inadequados, e por isso fisicamente punidos.

a lâmpada fluorescente virou um símbolo da opressão não só aos LGBTs, mas a todos os corpos percebidos como inadequados pelo modelo hegemônico.

a revolta da lâmpada é uma revolta pela liberdade de todo corpo.

o corpo que é ~lampadado~ literal ou metaforicamente por ser como se é e utilizado como se deseja.

o corpo que veste a identidade de gênero que se assume, e adaptável a outras.

o corpo que se mexe, ama, fala, fode, beija, toca ou se transforma de jeitos diferentes, à margem das hegemonias do mexer, do amor, da fala, da foda, do beijo, do toque ou da transformação.

o corpo que questiona a norma, que não precisa se moldar a um padrão, que não pede VIP pro opressor para entrar na boate que ele frequenta.

o corpo que aborta.

o corpo violentado por andar livre.

o corpo transformado, cuja forma ~original~ não representa a pessoa que carrega.

o corpo que tinha pinto e agora tem vagina, e vice-versa.

o corpo que utiliza o ~aparelho excretor~ para outros fins deliciosamente não reprodutores.

o corpo pintoso, afeminado, aviadado, fechativo.

o corpo de macha, de dyke, de sapatão.

o corpo de peito e pau.

o corpo de barba e salto.

o corpo grande ou pequeno ou peludo ou pelado.

o corpo negro, branco, vermelho ou amarelo.

o corpo que busca outros estados de consciência.

o corpo inclassificável.

o corpo permitido.

o corpo político.

o corpo que segue um padrão hegemônico por opção, mas luta pelo direito dos que não seguem.

o corpo que deseja ter direito de ser o que é, não importa o que for.

a revolta da lâmpada nasce derivada da nova parada LGBT organizada no RJ em 12 de outubro, com o mesmo modelo: descentralizada, desinstitucionalizada, coletiva, criativa, independente e com equilíbrio de protagonismo entre corpos.

ela é, ao mesmo tempo:

LUTA: uma ação política pragmática, com pauta clara de reinvindicações para: população LGBT, mulher e minorias criminalizadas

FERVO: um espaço de livre expressão artística e de gênero, onde se luta pelo direito de um corpo livre ao mesmo tempo em que se vive e celebra ele.

porque FERVO TAMBÉM É LUTA.

essa é a pauta de reivindicações da revolta da lâmpada:

- Legalizar o aborto e criar políticas de incentivo à realização de parto normal e humanizado no SUS

- Igualar os crimes de discriminação por identidade de gênero e orientação sexual aos mesmos termos da Lei do Racismo.

- Criar audiências públicas descentralizadas para debater o PL7582/14, que tipifica os crimes de ódio e intolerância e criminaliza a discriminação por identidade de gênero e orientação sexual.

- Capacitação e sensibilização continuada das polícias para tratar dignamente e acolhedoramente as vítimas de discriminação e violência motivadas por sua orientação sexual e identidade de gênero.

- Resgatar o programa Escola Sem Homofobia.

- Garantir políticas públicas na área da saúde integral para a população LGBT (saúde mental, HIV/Aids e outras DSTs, Hormonoterapia, Ginecologia, etc)

- Aprovar imediatamente a Lei de Identidade de Gênero Nacional (PL5002/13)

- Realizar campanha, a nivel federal, contra o assédio sexual e a intimidação da mulher, bem como o estupro corretivo, violência praticada geralmente contra mulheres lésbicas e bissexuais.

- Apoiar e desenvolver políticas para a garantia, a defesa e a manutenção do Estado Laico, tais como: re-discussão da imunidade tributária dos templos religiosos, valorização da diversidade religiosa, fiscalização do enriquecimento ilícito de instituições religiosas, etc.

- Distinção legal entre liberdade de culto e de expressão e discursos de ódio pregados por religiosos fundamentalistas.

- Por um Estatuto da Família (PL6583/2013) que reconheça outros arranjos familiares além do casamento entre homem e mulher.

- Legalizar o consumo medicinal e recreativo de maconha, como mais um passo rumo à garantia de liberdades individuais e ao fim da guerra às drogas, que tem alvos claros para encarceramento e morte entre os pobres e negros das periferias.

- Incentivar a criação de um Mapa da Violência LGBT no Brasil para consulta pública.

- Impedir ações políticas que oprimam ou criminalizem os movimentos sociais.

- Criar uma lei que efetive o Casamento Civil Igualitário.

e essa é a programação da revolta da lâmpada:

ITINERÁRIO: PAULISTA-AUGUSTA-PRAÇA DOM JOSÉ GASPAR

16:00 - CONCENTRAÇÃO (Av. Paulista, 777 - local exato onde rolaram as agressões a lâmpada em novembro de 2010)
+++ OFICINA DE CARTAZES
+++ BODY PAINTING
+++ SERIGRAFIA DE GUERRILHA (traga sua camiseta velha ou tecidos ~diversos~)
+++ Leitura do MANIFESTO e da PAUTA DE REIVINDICAÇÕES
+++ SAMBADA NA CARA DE LEVY FIDELIX, MAL-AFAIA E BOLSONARO

17:00 - MARCHA
+++ CATWALK MILITANTE feat. Rita Von Hunty (Academia de Drags), Thiagx, Duda Dello Russo, Samantha Banks
+++ DANÇA DA XUCA
+++ PERCUSSÃO
+++ INTERVENÇÃO na frente do Sukiya, na Augusta (o restaurante + homofóbico do feice)

20:00 - FERVO DE ENCERRAMENTO NA PRAÇA DOM JOSÉ GASPAR (~a praça do Paribar~)
+++ RICO DALASAM (queer rap)
+++ banda ANTI-CORPOS
+++ LUANA HANSEN
+++ BEN AVRAHAM
+++ XËRXËS (ganhador do prêmio Dynamite)

DJs DO FERVO:
+++ MILLOS KAISER (SELVAGEM)
+++ Apolinário
+++ Anne Feminicha
+++ Lezandro Cunhaz
+++ Wallace Ruy
+++ Luis Knees
+++ Gus

quer performar, tocar, agregar, arrasar? fala pra gente!
contato: arevoltadalampada@gmail.com
doações: http://bit.ly/doacoesRdL


mais: https://www.facebook.com/arevoltadalampada

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O QUE VOCÊ FARIA SE EU MORRESSE HOJE, POR FELLIPE FERNANDES


Talvez você se lembre, quem sabe não. Gosto de pensar que sou parte estribilhos franceses em audições particulares. Gosto de pensar que somos.

Você: todo-ouvidos. Seja valente – não faça uso do que há debaixo de nossa cama. Ouça a chuva, sinta o frio, a fome, cheire a duração das horas: quilômetros molhados e partidas verdes sob o sol. Cruze, então, os dedos para que eu me afogue em seus olhos.

Salve-me (seja meu guarda-chuva) com hálito de álcool e gordura de frango de botequim. A maldição, você sabe, é aparência da felicidade e a juventude há muito não é seu charme.

Eu serei bruto. Duro. Sulcado com veias. Estou ardendo por abrir as portas e, longe das angústias, deixar o cheiro do jantar colorir o mundo. Sem você. Quem sabe não – manchando com vinho desejos que contamos a ninguém.

O que me sustenta na vida também a consome: e cada dia sou mais e sou menos. Descubra a etnia do cotidiano e desenhe sonhos ornitológicos para cabeças de boa gente. Deseje a onipresença em minha luxúria.
O que você faria se eu morresse hoje, você me pergunta. Sem dar por brilho de um sol que nos mata com navalhas invisíveis, eu lhe respondo sem movimento de língua na palma da mão que vasculha sua parte íntima:

__eu morreria amanhã.
***
Fellipe Fernandes é um escritor que gosta de tonar ficção a própria vida. Colabora com o blog la belle du jour 
MODA, BELEZA, MÚSICA, ARTE, TENDÊNCIAS  na coluna “Consultório Sentimental” e escreve no blog Memórias de um Jovem Senhor.

Texto publicado originalmente aqui.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

vivo

você quer chegar rápido em casa, mas só tem ônibus pra dali a uma hora. você faz o esperto e compra passagem pra cidade vizinha (a próxima depois da sua) paga mais caro, mas poxa, sai em 10 minutos e você vai fazer charme pro motorista parar perto da sua casa, que é caminho. você dorme no ônibus e o ônibus corre muito e chove muito e o ônibus perde o freio e se você não estivesse dormindo, acharia que ia morrer, como os outros passageiros acharam. você não morre, o ônibus resolve parar no meio da estrada e você fica feliz por estar vivo e espera, espera, espera e entra naquele que ia sair dali a uma hora. e chega em casa. não rápido, mas vivo.