no meu apê, aguardando a ligação do meu pai. daqui a pouco ele vai me buscar no metrô sacomã e vai me levar pralgum lugar a fim de comemorarmos em família o aniversário do meu irmão, tiago, que completa hoje 31 anos. daí que eu passei o dia todo angustiado. a realidade é que eu respiro angústia. sempre. ele completa 31 anos e isso só me faz lembrar que logo eu faço 30. não, não... não me bateu aquele desespero que amedontra os quase-30. afinal, apesar da cara de menino, já sou calvo há pelo menos cinco anos. terminei faculdade e uma pós-graduação (digo, uma entre 4 começadas e largadas em algum lugar do passado). não casei, nem quero. não tive filhos, nem quero. carro, casa, televisão e bicicleta a gente compra. os amigos vão e vem. um ou outro fica. livros que talvez nunca serão lidos e filmes b enchem cada vez mais as prateleiras improvisadas com caixas de fruta. amor. a certeza que vão interpretar mal este post. londres, paris, lisboa. bons ares. ainda falta conhecer o centro-oeste do meu país. hífens, acentos e assentos que não sei usar. olhares. avó internada num asilo. a falta da gata. o aniversário de um ano sobrinho se aproximando. as frases não-ditas e a saudade daquelas músicas que ainda não existem. o lago, a praça, a queda, a cicatriz. coisas que só eu sei e que vou levar comigo até que meu corpo deixe de funcionar. o sangue que insiste em circular. as palavras... ah, as palavras. meu pai que não liga logo. a fome. fiz tanta coisa e nada fiz. a indiferença pelos meus vizinhos de prédio e de rua, os mendigos. este texto interminável no blog e a vontade de gritar na janela que, se não fosse uma construção chique dos jardins, faria eco no parque do ibirapuera. do outro lado, o caos da avenida paulista. e o metrô cheio que me levará ao abraço do irmão. enquanto isso, o pensamento nos projetos que não vai sair da cabeça e a sensação de tempo perdido. me sinto velho e feliz. e essa angústia compete com o cansaço que sinto neste dia produtivo. uma angústia que não é sinônimo de tristeza ou melancolia. mais tarde quero voltar pro apê, tirar os sapatos e (re)assistir ao clube da luta, cuja cena final, nada me faz esquecer. assim como nada me faz esquecer as contas que tenho a pagar, a viagem que quero fazer, o livro que quero escrever. as luzes das casas dos vizinhos que começam a acender. a companhia sempre presente. o medo. e a coragem. do nada, tudo o que me resta é deus. deus e as palavras. boa noite.
.
.
.